Coração de Jesus, uma questão de amor

Na Igreja Católica, assim como o mês de maio é dedicado a Maria, a Mãe de Deus, o mês de junho é dedicado ao Coração de Jesus. Pode ser, entretanto, que não se entenda bem o sentido desta dedicação.

Nós estamos acostumados a falar na “devoção ao Sagrado Coração de Jesus”… Mas não pode ser apenas uma “devoção”. Não é uma devoção como as outras. Muito mais que a simples veneração pelos santos, a Igreja presta um verdadeiro CULTO ao Coração de Jesus. Sendo Jesus Cristo o Verbo de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade que se encarnou, nascendo de mulher, ele deve receber dos fiéis um culto de “latria”, ou seja, de adoração.

O grande mandamento que recebemos pelas Escrituras, e confirmado pelo próprio Jesus, diz assim: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o coração!” Pode ser que alguém ache difícil amar a Deus DE TODO O CORAÇÃO, sem deixar uns espaços reservados para amar os pais, amar os filhos, amar o trabalho, amar o dinheiro, amar o futebol e as novelas.

Mas não devia ser difícil para nós. Afinal, também Deus sempre nos amou, e ainda nos ama, de todo o coração. Que foi que ele fez de seu próprio Coração? A resposta está no Evangelho de São João, ao narrar a cena do Calvário. Quando Jesus já estava morto, veio um centurião romano com sua lança, golpeou o lado de Jesus, perfurou o seu coração, e imediatamente correu sangue e água.

Nosso Deus permitiu que seu coração fosse rasgado, para que a água do Batismo e o sangue da Eucaristia corressem por nós, inaugurando a vida sacramental da Igreja. Assim sendo, quando ele pede que o amemos DE TODO O CORAÇÃO, ele não pede mais que uma simples retribuição pelo amor extremado, sem limites, que ele já demonstrou por nós.

Há outro ponto que merece nossa especial atenção. Quando os navegadores espanhóis, no final do Séc. XV, atravessaram o oceano e chegaram à América Central, ali encontraram pirâmides escalonadas, cujos degraus estavam cobertos de crânios de jovens sacrificados de modo sangrento ao deus Xipe-Totec. O “deus” dos maias e astecas exigia nada menos que a morte de seus fiéis.

Já o nosso Deus, bem ao contrário, deixa que corra o sangue dele, e não o nosso, para que todos nós tenhamos a vida. É o Coração de Jesus que se deixa rasgar pela lança do centurião.

Em 1956, na Encíclica “Haurietis Aquas”, do Papa Pio XII sobre o Coração de Jesus, ele escreveu:

“Essa verdade fundamental permite-nos entender como o Coração de Jesus é o coração de uma pessoa divina, quer dizer, do Verbo encarnado, e que, por conseguinte, representa e nos põe diante dos olhos todo o amor que ele nos teve e ainda nos tem. E aqui está a razão por que, na prática, o culto ao Sagrado Coração é considerado como a mais completa profissão da religião cristã.

Verdadeiramente, a religião de Jesus Cristo funda-se toda no Homem-Deus mediador; de maneira que não se pode chegar ao coração de Deus senão passando pelo coração de Cristo, conforme o que ele mesmo afirmou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”. (Jo 14,6.)

Assim sendo, facilmente deduzimos que, pela própria natureza das coisas, o culto ao sacratíssimo coração de Jesus é o culto ao amor com que Deus nos amou por meio de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, o exercício do amor que nos leva a Deus e aos outros homens.”

No próximo mês de junho, teremos a oportunidade de aprofundar nossa gratidão por sermos o alvo especial de tanto amor, obviamente imerecido. Puro dom…