– Salve, Canuto! Quanto tempo!
– É mesmo! Mais de trinta anos!
– Muito mais! Conceição do Rio Verde, 1958… São quase 60 anos!
– Como o tempo passa…
– Bons tempos!
– Lembra do Japonês? Por onde andará?
– Claro que me lembro… Mas o Japonês já mora na cidade dos pés juntos…
– Morreu?
– Atropelado em Brasília.
– Bons tempos!
– Lembra do Pe. Carlos?
– Muito! Um santo homem! Mas já esticou os cambitos… Foi o coração…
– Nunca me esqueço de um zero bem redondo que ele deu ao Sinfrônio, que estava “colando” na prova…
– O Sinfroninho já bateu a caçoleta. Mal de Chagas…
– Bons tempos!
– Bons tempos!
– E o Zé Veras? Tem visto o Zé?
– No último dia de Finados, estive pertinho dele.
– Na Assembleia?
– Não. Ele comprou um lote no cemitério. Infecção hospitalar.
– Mas ele não tinha um irmão médico? O Gumercindo?
– Tinha. Mas também já foi. Bebia demais e bateu com as dez…
– Bons tempos!
– Bons tempos!
– Lembra do Seu Januário, inspetor de disciplina?
– Com aquele jaleco cor de ovo? Claro que me lembro. Também já vestiu um pijama de madeira. Um vento pelas costas…
– Uma vez ele pegou o Teixeirinha no pomar, roubando jabuticabas… Correu um quilômetro e meio atrás do coitado e foi agarrá-lo na prainha do Rio Verde!
– O Teixeirinha também já bateu as pacueras… Insolação.
– Bons tempos!
– Bons tempos!
– Lembra do velho Otoniel? Que tinha uma carroça de aluguel? Vivia às turras com o Padre Lino?
– Pobre do Otoniel!
– Por quê?
– Descansou.
– Mas descansar é bom…
– Bem, ele fechou o paletó…
– Ah! Aí é diferente…
– Bons tempos aqueles!
– Bons tempos!
– Ainda na semana passada, dei de cara com o Chico Maravilha em frente o Cine Brasil…
– Também já bateu as botas. Ontem foi a missa de sétimo dia…
– Morreu de quê?
– Pneumonia.
– Pneumonia simples ou dupla?
– Simples.
– Ainda bem.
– Ainda bem…
– Bons tempos aqueles!
– Bons tempos!