No dia 29 de novembro de 2015, o Papa Francisco abriu a “Porta Santa” na Catedral de Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Bangui, na República Centro-africana, abrindo as celebrações do “Ano da Misericórdia”, proposto a toda a Igreja através da Mensagem “Misericordiae Vultus” [O Rosto da Misericórdia].
A imagem da porta é rica de harmônicos, pulsante de conotações. A porta é um limiar, uma divisória entre os que estão fora e os que estão dentro. A porta é a páscoa, a passagem que se abre ao visitante. A porta dá acesso aos mistérios e aos tesouros acumulados no coração da Igreja. Por isso mesmo, a pia batismal se localiza logo à entrada do templo, pois o Batismo é o pórtico pelo qual os novos filhos são incorporados à família de Deus. Assim, é na porta do templo que ocorre o parto de um novo cristão, gerado pela mãe-Igreja.
Em muitos lugares, a porta entre o mar e a terra era o “porto”. Por exemplo, o porto de Roma é a cidade de Óstia [em latim, a “porta”]. Porto e porta se confundem como o lugar de asilo, refúgio e proteção. O navegante que encontrava o porto estava seguro, pois as portas da terra se abriam à sua chegada.
Quando a Igreja abre as portas, ela faz um convite, como já o fizera João Paulo II: “Abri as portas ao Redentor!” Há um duplo movimento no gesto ritual da Porta Santa que se abre: o templo se abre ao fiel e este se abre a Cristo. Afinal, o próprio Jesus Cristo se apresenta como a entrada para o Pai: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, será salvo; tanto entrará como sairá e encontrará pastagem”. (Jo 10,9)
A porta é o lugar da acolhida. Todos os mosteiros deixavam um monge em permanente plantão junto à porta de entrada, para acolher os peregrinos. Era o “ostiário”, isto é, o porteiro. As modernas portas giratórias das agências bancárias foram copiadas das portas rotatórias dos conventos femininos, onde a irmã “rodeira” – que vigiava a “roda” – estava sempre pronta a recolher o recém-nascido abandonado na cestinha do lado de fora.
O Papa Francisco vem insistindo na atitude de misericórdia e de acolhida a todos nós, os pecadores abandonados. Deve haver sempre um espaço para nós. Mas não nos esqueçamos de Alguém que também costuma estar do lado de fora e bate à nossa porta. Ele diz: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos juntos, eu com ele e ele comigo”. (Ap 3,20)
E com tantas portas fechadas, nenhum andarilho tem sido mais rejeitado do que Jesus Cristo…