Antigamente, quando as famílias eram mais numerosas, uma das tarefas mais trabalhosas das mães consistia no banho das crianças. E se o leitor se lembrar de que naqueles tempos não havia água encanada e os banhos eram de bacia, o trabalho era ainda maior.
Por outro lado, o momento do banho infantil era para as mães uma ocasião de verdadeira contemplação, sendo quase impossível não refletir que aquele pequeno corpo havia sido concebido e gestado em seu próprio seio. O milagre da vida gera profundas reflexões, uma suave ação de graças…
Na humilde aldeia da Galileia, a jovem senhora Maria de Nazaré buscava água na fonte para o banho de seu pequeno Jesus. E enquanto ela esfregava a pele macia do bebê, Maria mergulhava no abismo do mistério: era o corpo do Filho de Deus! E o realismo da Encarnação do Verbo podia causar na jovem mãe uma espécie de vertigem espiritual, pois estava diante de algo que superava infinitamente os limites do humano.
Que dizer? Que toda mãe devia ser reverente diante do mistério da vida? Que toda mãe devia ter consciência de ser cooperadora do próprio Criador? Ou ainda, que Maria de Nazaré não merece o desrespeito de ser chamada de “mulher comum”?
Essa mãe “incomum” era a Mãe de Deus. Ao dizer a Deus um sim incondicional, ela concebera sem a participação de um pai humano, escolhida que fora como o canal da vinda ao mundo do Messias prometido.
Que pensar? Na extrema humildade do Filho de Deus que aceita assumir a natureza humana, fazendo-se frágil, dependente, submisso? Sim, e também no impensável mistério de uma Pessoa divina que, ao se encarnar, experimentará todos os nossos limites, exceto o pecado, mas sem excluir o cansaço e a dor, o suor e as lágrimas, a sede e a fome…
E Maria dava banho em Jesus. E talvez suas mãos tremessem – numa espécie de adoração com reflexos psicossomáticos – ao tocar o Deus feito homem. E, olhando o pequenino, talvez lhe escapassem algumas lágrimas de compaixão, lágrimas semelhantes às que iria chorar ao pé da cruz.
Depois disso, como ignorar que essa mesma mãe – a mãe que nos foi dada como herança pelo Cristo agonizante: “Eis a tua mãe!” (Jo 19,27) – tenha hoje a mesma compaixão diante de nossos corpos feridos pela vida?
Não admira que a iconografia cristã repetidamente tenha-se inspirado na cena da Natividade, onde é impossível pensar na encarnação como piedosa mitologia, pois a visão da carne tem um peso esmagador.
Quando rezamos a Ave-Maria, nós pedimos que ela rogue a Deus por nós, pecadores, “agora e na hora de nossa morte”. É consolador saber que não morreremos sozinhos, mas na extrema passagem deste mundo teremos as mãos maternais – as mesmas que lavaram Jesus Menino – para acolher nosso último sopro e entregar-nos ao Amor que não passa…
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