“A Alegria do Amor”

Publicado por Antonio Carlos Santini 6 de abril de 2016

A alegria do amor

A nova Exortação do Papa Francisco de olho na inclusão e no cuidado pastoral.

Vários papas já escreveram mensagens, exortações e encíclicas sobre o tema da família, entre os quais João Paulo II, autor da encíclica “Familiaris Consortio”, publicada em 1981. Nos últimos tempos, a mídia fica à espreita de mudanças na visão da Igreja a respeito da família, em especial no que tange ao controle da natalidade e à situação dos casais divorciados e “recasados”.

Em recentes documentos enviados às dioceses de todo o mundo, o Sínodo dos Bispos explica que a nova Exortação apostólica “Amoris Laetitia” [A Alegria do Amor], assinada pelo Papa Francisco, não pretende produzir alterações na doutrina da Igreja sobre o casamento e a família, mas acima de tudo “recontextualizar” a sua visão. Para tanto, deve insistir na necessidade de uma “conversão da linguagem” e de um discernimento mais refinado.

Em matéria publicada pelo jornal católico “La Croix” [4/04/2016], o jornalista Nicolas Senèze trazia informações da agência de notícias romana “I. Media”, segundo a qual os bispos já teriam recebido cerca de quinze extratos de catequeses do Papa Francisco sobre o tema da família, bem como passagens de João Paulo II, datadas de 1980 e 1981, acerca da teologia do corpo.

Um panorama mais rico

Segundo as fontes romanas, a “Amoris Laetitia” fará referência a esses mesmos textos, mas também incluirá partes inteiramente novas, com base na Sagrada Escritura. O objetivo é o de ampliar “um quadro mais vasto, rico em indicações e em inspirações para a vida, a espiritualidade e a pastoral familiar”.

Outra carta, enviada aos bispos em 31 de março, oferece orientações e pistas para a leitura da nova Exortação, explicando que “o estilo do Papa Francisco está ligado à necessidade de renovação e, mais ainda, de uma verdadeira ‘conversão’ da linguagem”. Natural, setores mais conservadores ficaram de orelha em pé.

“Para falar da família e às famílias – observam os responsáveis pelo Sínodo -, a questão não está em alterar a doutrina, mas em inculturar os princípios gerais a fim de que eles possam ser compreendidos e postos em prática.” E realçam o fato de que Francisco prefere expressar-se em uma linguagem mais atenta aos interlocutores, o que requer “discernimento e diálogo”.

Companheira de caminhada

Este foi um dos pontos-chave do relatório final da assembleia sinodal sobre a família [outubro de 2015], quando a Igreja era chamada a ser não somente “mestra da verdade”, mas também a desenvolver uma “arte do acompanhamento”.

Nas palavras do texto, “postar-se junto da família como companheira de caminhada significa, para a Igreja, assumir uma atitude sabiamente diferenciada: às vezes, é necessário permanecer ao lado e escutar em silêncio; em outros casos, deve-se preceder para apontar o caminho a percorrer; em outros, ainda, é oportuno seguir, sustentar e encorajar”.

Segundo a carta enviada aos bispos, “o discernimento exige que não se dê por adquirida uma formulação da verdade nem as escolhas a realizar”. A preocupação de Francisco é a de “recontextualizar a doutrina a serviço da missão pastoral da Igreja”, realçando que “não se trata de adaptar uma pastoral à doutrina, nem de arrancar da doutrina o seu selo pastoral original e constitutivo”.

A visão do Papa é que “a doutrina deve ser interpretada em relação ao coração do querigma cristão e à luz do contexto pastoral no qual ela será aplicada”. Isto, sem esquecer jamais aquilo que dita o cânon do Código de Direito Canônico, isto é, que “a salvação das almas deve ser sempre na Igreja a lei suprema”. (ACS)

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Qual o grau de autoridade de uma Exortação apostólica?

Na Igreja Católica, a autoridade de um texto não está diretamente ligada à sua forma (Encíclica, Constituição apostólica, Exortação apostólica etc.). A Exortação apostólica, tal como a Encíclica, inclui-se no magistério extraordinário do Papa. Assim, mesmo não sendo solene, o ensinamento que ele contém é definitivo e envolve a infalibilidade, ou seja, as verdades que nele contidas possuem um vínculo orgânico direto com as verdades de fé divinamente reveladas. Deste modo, tal magistério supõe a submissão religiosa da vontade e da inteligência.

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