Iniciação
Inicialmente me senti recebida com esmero, atenção e muitos cuidados, acolhida por uma grande e numerosa família, abraçada pela irmandade.
Primeira fase, para ingressar ao uso ritualístico do chá ayahuasca passa-se por uma entrevista, os principais questionamentos são sobre o uso de medicamentos controlados, drogas lícitas e ilícitas, distúrbios de ordem psíquica, antecedentes criminais. Respondido e aprovado segue a segunda fase, orientações do uso de vestimentas, alimentação, o que levar para o ritual, não fazer uso de perfumes.
Terceira fase, como é a circulação dentro do salão, templo, terreiro, sempre sentido anti-horário durante o ritual, onde está a água, banheiros e manter-se calado, falar somente com autorização do responsável na condução do ritual ou sessão.
Toda atenção e cuidados são constantes durante o ritual e após o ritual, até que retorne várias vezes e se firme na caminhada junto com os discípulos, seguidores, irmandade.
Cada instituição, organização, grupo, que faz uso do chá ayahuasca tem suas peculiaridades, nem todos seguem a mesma ordem estrutural administrativa, ritualística. Foram anos dentro de um sistema fechado que se intitula religioso, combinando o título de utilidade pública e religião com doutrina cristã reencarnacionista.
O uso ritual da Música
Artistas de todos os segmentos são bem aceitos, bem vindos e valorizados, toda e qualquer forma de comunicação através da arte é acesso para influenciar e trazer mais seguidores, principalmente o público jovem, que garante a perpetuação da seita. As substâncias psicodélicas produzem profundas alterações na senso-percepção, abrem os receptores de serotonina que é o comunicador bioquímico estimulador das visões oníricas, proporcionando um balanceio de sonolência entre a vigília e o estágio alfa, o primeiro patamar do sono. É o vestibulo do inconsciente. Visão, tato, audição são estimulados quando ingeridas e se mantém atuando por 15 a 30 dias no organismo, dependendo da sensibilidade de cada pessoa. A utilização de músicas durante os rituais vem de tempos primórdios, músicas de rezos, cânticos, chamadas, instrumentos. A música é uma das formas de conduzir a força da ayahuasca, pode aumentar e intensificar as visões, abertura de portais espirituais, gerando conexões proteicas entre os neurônios, ou seja imprime marcas permanentes em camadas profundas do inconsciente emocional e afetivo, quer dizer doutrinação arraigada de crenças.
Os artistas trazem por natureza a busca do transcendente, por isso são muito apreciados pela hierarquia templária. Por mais que a crença estimule a devoção, eles passam a acreditar estarem engajados em uma majestosa obra divina. A sutileza em obter as melhores mensagens doutrinárias em linguagem poética, com melodia, harmonia e ritmo dançante durante a beberagem do chá tem um efeito extraordinário para estimular a miração, é um ganho valioso, o guia doutrinário utiliza este potente instrumento de lavagem cerebral sem pronunciar uma palavra, utilizando a música como veículo. O artista ganha admiradores, fãs, vende suas músicas de reza, cura, devoção em todas as igrejas, templos, grupos, terreiros, e inicialmente se sente admirado em um nicho de seguidores fortemente arregimentados assim como acontece em outras confissões religiosas. Mas com o tempo sentem um exaurimento de sua inspiração, ao perceberem que através da ingestão da ayahuasca, sua música é utilizada para manipulação cerebral guiando e conduzindo o rebanho humano a obedecer cegamente as mensagens diretas e indiretas que foram induzidos a inserir em suas músicas, rezos, chamadas instrumentais.
O remodelamento psíquico
Inevitavelmente ocorrem transformações e desconstruções de padrões da formação da personalidade, assim a estrutura psíquica de quem entra é reprogramada, moldada nos padrões da religião. Galguei graus hierárquicos, exerci muitos trabalhos voluntários e dedicação no intuito de evoluir, construir, expandir, edificar internamente o amor fraternal, todo empenho ao desenvolvimento espiritual.
Durante o uso ritualístico da ayahuasca as intenções do guia, dirigente, mestre, guru, xamã, são incutidas na memória inconsciente de quem bebeu o chá, é neste momento de vulnerabilidade que estamos indefesos à guiança das palavras ditas por quem está conduzindo o ritual, que passam a ecoar em camadas cada vez mais profundas do inconsciente.
Registros das palavras e orientações, doutrinas e ordens ficam guardados na memória e aos poucos somos conduzidos a fazer o que nos ordenam, pois a ordem tem que ser obedecida. Aquele que não obedece estará infringindo as leis da seita religiosa, mesmo sendo estas ordens conflitivas com as Leis Constitucionais. É obrigatório obediência, quão mais elevado o galardão maior o comprometimento de obediência ao mandante guia, o guru supremo.
Me refiro a Leis Internas de opressão, pressão, impostas, veladas, que não estão escritas, até mesmo por não ser conveniente ser tão explícito, são lidos documentos durante o ritual que nas entrelinhas consagra os poderes dos “mestres”.
Com o passar do tempo, meses, somos afastados dos familiares, amigos, a sociedade exterior ao uso do chá. A desconstrução e reconstrução de uma nova identidade passa imperceptível, passamos inconscientemente a sentir-nos superiores, o Ego inflado, a ilusão de fazer parte de uma elite iluminada, de estar cumprindo uma missão grandiosa. Passamos a acreditar estar em condições excepcionais de expansão da consciência, de ser bom, de pregar a Paz, fazer o bem.
Passamos a viver em uma bolha, sociedade discreta e secreta, fechada, nada do que ocorrer dentro do templo, igreja, comunidade, grupo, sessão, ritual, gira, pode ser dito ou comentado com quem não está esclarecido, falamos a mesma linguagem, enquadrados e despersonalizados, robotizados em um sistema de lavagem cerebral, manipulação mental, patriarcado opressor em que o mantra é a dominação do mundo pela Paz.
Comentários
Interessante e comum a forma de interpretação do julgamento que é culpabilizar o seguidor/ discípulo, quando este traz a desconstrução da ilusão de estar em um lugar perfeito. São inúmeras criticas para não se aceitar e enxergar a realidade, até mesmo citar como falta de personalidade por expor tais abusos e violações de direitos humanos. O desvio de caráter dos dirigentes que são encobertos pelas instituições são válidos quando não atinge a quem nada vê além de mirações e burracheiras (visões) superficiais. Os bastidores são pesados e antagônicos, quem eleva de grau hierárquico encontra com tais aberrações até onde é permito a cada um ver. A ordem é calar! Pois caso não o faça, as consequências são graves. Há quem permaneça nas beiradas, sem chegar ao centro do conhecimento, muitos cegos a andar em círculos, poucos que acessam os bastidores se manifestam, quem quer ficar sem a dose de chá para viajar nas mirações? Inocência, cegueira, ingenuidade ou conivência? A quem mais é dado mais é cobrado. Não é falta nem excesso de personalidade, isso chama-se caráter! Quem sofre as violações de direitos humanos, o ciclo continua pois a não aceitação dos seguidores da existência de tamanha escuridão que guia às trevas da imperfeição desumana, confunde o caminho da retidão com o caminho da ignorância da vingança. Coragem para enxergar! Coragem para seguir na Luz da Verdade! Coragem para conseguir desvincular! Coragem para viver a realidade!
Concordo plenamente com a Sania, as minhas experiências com o chá e com a religião e com a comunidade religiosa, sempre foram boas, como.em.todo lugar existe exceção, mas nesse lugar fiz muitos amigos,durante os anos que lá estive, que são meus amigos até hoje, e nunca me afastei dos meus amigos e parentes por causa da religião, isso ai tem a ver com a personalidade (ou falta dela) em cada pessoa… nunca fui obrigada a nada! Inclusive no momento em que quis me afastar, foi super tranquilo, todos continuam a gostar de mim e tenho certeza se um dia eu quiser voltar, serei bem vinda. Talvez a pessoa que escreve esses textos tenha passado por algum trauma muito pessoal e esteja de alguma forma em busca de vingança, mas como aprendi messe lugar “o mal se paga com o bem, outra paga o bem não tem”.
Por último gostaria de comentar que nas instituiçoes da sociedade sejam religiosas, políticas ou de qq outra natureza há situaçoes de abuso de poder, manipulação … O Brasil recente assistiu a triste história do João de Deus. Há denúncias cotidianas de pastores, padres,políticos, médicos e até professores com práticas abusivas, assedio moral e sexual, corrupcao etc. As sombras egoicas de cada um refletem na sociedade. Importante ter canais sérios de denuncia e apuração. Entretanto isto requer sabedoria… num contexto de tanto ódio e intolerância, qualquer generalização é perigosa. Sabemos que ainda temos no país muito desrespeito às diversidades,intolerância religiosa. Por isto acho que é preciso estar atenta a forma e conteudo de uma denuncia necessária e legítima. Esta segunda versão nao contextualizou bem a situacao de opressão vivida e acabou passando a falsa ideia de que o problema está no chá e nos rituais, como se todos grupos e religiões que consagram o ayahuasca fossem opressores, manipuladores. Eu acredito que a maioria faz um trabalho amoroso e sério.
Este é um relato de uma parte da minha experiência de vida que ao estar inserida em uma sociedade / comunidade/instituição que faz uso ritualustico e religioso da ayahuasca, ao galgar graus hierarquicos dentro da instituição, não há como separar-se do todo. Passamos a viver o “Um”, pensar para e no coletivo, todas as ações são voltadas para a irmandade. Vida pessoal, profissional, religiosa, social, lazer, viagens, tudo voltado ao coletivo.
Somos afastados da família, amigos..os familiares e amigos que nào fazem parte da instituição vão ficando distantes, Alguns casais se separam por não seguirem no mesmo caminho espuritual (tem que seguirem juntos, é a orientação! A mulher tem que acompsnhar o marido! Tem que obdecer!), tantas são as tramas que faz parte deste relato que é escrito em varias materias.
Não generalizo! Mas tenho a certeza que uma celula doente, prolifera e adoece o tecido que prolifera e adoece o orgão que adoece e prolifera adoecendo o sistema, que adoece e contamina todo o organismo, adoecendo o corpo. A causa precisa ser sanada.
Estive atuando no ativismo no caso do João de Deus, assim como inumetos outros casos de violação e violencia contra mulheres. No meu caso, as denuncias foram feitas no devido tempo, documentadas, registradas.O Estado esta corrompido!As autoridades são bem vindas para fazerem parte da instituição e bebem ayahuasca, legislam em causa propria. Coloco à disposição em publico, a minha vida para aqueles que queiram investigar, examinar, revirar, virar, desvirar e eu ter o direito em expor a minha vida dessas experiências do inferno da escuridão da luz da ayahuasca! Ser obrigada a calar por falar a VERDADE, ou seja: alertar que há manipulação!
A pedido de inumeras vitimas que vem sofrendo e
devido à Pandemia do Covid, venho registrar esta real história de vida que infringe leis divinas e constitucionais no meio ayuasqueiro. Além de estar auxiliando as vitimas que se encontram em estado vegetativo e sabem o quão precioso é saber que há saída.
Vida aberta! Nada a esconder! Tudo à declarar!
Despertar da consciência é mudar e transformar a dura realidade.
Não sou a primeira, nem a ultima!
Lanço uma pergunta: – Como desatar um nó espiritual?
Como é o relato de uma experiência pessoal, acho mais adequado dizer por exemplo passei a viver e não passamos a viver em uma bolha, sociedade discreta e secreta, fechada: sou afastada e não
somos afastados dos familiares, amigos. Aqui também: passei inconscientemente a sentir-me superior, Passei a acreditar estar em condições excepcionais de expansão da consciência. Porque acredito que é imprudente generalizar a sua experiência… Afinal quem passamos?
Já ouvi relatos opostos: Reconciliei com amigos, construí uma relação mais amorosa com meus pais e familiares, percebi que nada sei e que a fé pressupõe humildade confiança e entrega… Muitos relatos de vivências de conexão espiritual e humana amorosa.
Não estou duvidando de que possam distorcer e fazer uso inadequado de um conhecimento sagrado… Mas para os leitores que desconhecem o tema, podemos criar preconceitos e julgamentos que não contribuem para o diálogo.
“Que nos cure Que nos cure Madre Terra!!!!
Esta é uma experiência muito particular e que pena … Ao contrário, há quinze anos consagro esta “bebida sagrada” e só tenho a agradecer os ensinos que recebi. Contribuiu para que hoje me sinta mais livre e consciente/presente. Quantas ilusões foram desfeitas, quantas curas! Lições sobre o desapego, a humildade, a fé, a paz! Resignificar a vida, as relações e compreender com o Coração! Coragem para seguir o caminho do coração!