Andar, décimo
manhã primaveril
passa a chuva
o sol resplandece
inevitável que fuja
Embaixo a árvore
recria róseas chamas
crianças correm
a bola em gomos coloridos
desliza sobre a grama
Tic-tac do relógio
na parede, logo atrás
Sobre a mesa
em ordem absoluta –
a corda
a espada
o vidro com cicuta
o revólver
(cinco balas no tambor)
a folha em branco
o que escrever?
Na cozinha, o botijão de gás
Não houve indecisão
num gesto seguro
perpetrou o ato
e atirou-se – sem titubear
no âmago
da vida
Comentários
Antônio Ângelo, tenho gostado bastante de seus poemas. Tem sido um prazer em meio a tanta coisa ruim divulgada por aí. Parabéns..
Tenho, a cada dia, me surpreendido, mais e mais, com a beleza – íntima, delicada e, ao mesmo tempo avassaladora – da poesia do Antônio Angelo.