Antônio Carlos Santini
Tenho muitos amigos cristãos não-católicos. Aliás, bons amigos! Sabemos respeitar nossas diferenças e somar nossos pontos comuns. Mas não é difícil perceber sua perplexidade diante das manifestações do povo católico na presença do Papa, algumas delas beirando o irracional. Peço permissão para explicar…
Como justifica a própria etimologia do termo “papa”, isto é, “papai”, o católico não vê o Sumo Pontífice apenas como uma espécie de autoridade, um supremo mandatário a quem todos devem obediência. As demonstrações afetivas retratadas pela televisão nestes dias da Jornada Mundial da Juventude – buscar a proximidade, tocar, abraçar… – trazem à tona um estado interior que é próprio dos filhos. Para nós, católicos, a relação com o Santo Padre é uma “filiação”.
A religião católica é, de fato, uma religião filial. No fundo, todo cristão deveria viver a mesma experiência, já que Deus é Pai de todos nós. Na prática, porém, vê-se que Deus é muito mais invocado como “Senhor” do que como “Pai”, com os servos ocupando o espaço dos filhos.
Em nosso caso, temos uma grande ajuda na figura evangélica de Maria, a respeito de quem o apóstolo João ouviu, aos pés da cruz: “Eis a tua Mãe!” (Jo 19,27). O católico se dirige a Maria como um filho fala à sua mãe. No meu modo de ver, esta relação com a Mãe favorece a procura de um pai, pois o coração do fiel já se acostumou aos sentimentos e atitudes de filho: basta transpô-los para o Pai do céu.
Ora, desde que Jesus Cristo escolheu um dos doze apóstolos para estar nos alicerces de sua Igreja – “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” -, ficou patente a “paternidade” do apóstolo, logo irradiada para os demais bispos e abades. Aliás, “abade” deriva de “abbá”, isto é: pai!
É bem verdade que o povo católico anda meio decepcionado, desde que nossos padres (outro termo que significa “pai”) andam preferindo comportar-se como nossos “coleguinhas”, com visível dificuldade para assumir a missão paternal que – convenhamos – é mesmo muito dolorida…
Assim sendo, ninguém se espante com a nova onda de ternura e de carinho suscitada pelo Papa Francisco, que abraça os fiéis, beija as crianças e sorri para todos, pois esta onda apenas manifesta sem reservas a maneira como nós vemos o Bispo de Roma.
Claro, os demais bispos e sacerdotes também merecem o mesmo carinho, mas esperamos que eles também sejam uma presença paternal, quando a obediência não brota do poder exercido, mas do amor distribuído…
Comentários
Mestre Santini, por oportuno cito o Papa pop na homilia de Aparecida: “Eu quero esta juventude como motor da minha igreja”, não merece ser imortalizada em latim? Como ficaria?
Aí vai, Milton. Favor gravar no mármore: Haec juventus motor ecclesiae meae volo.
Bom dia! Compartilhei com todos os meus amigos, pois acho de extrema importância que as pessoas, católicos ou não, possam experimentar Esse amor paternal que o Nosso Santo Padre o Papa Francisco nos transmite.
Santini, espetáculo de reflexão! Que o Espírito Santo de Deus continue lhe inspirando hoje e sempre. Amém!