Sete horas da manhã.
O sol bate na minha janela.
E me seduz com um buquê de raios dourados.
Entra e se esparrama sobre os lençóis.
Me cobre de luz.
E me penetra os poros num orgasmo cósmico.
Antes de deixar o quarto,
canta um recortado,
parodiando versos
de antiga cantiga de roda de despedida
nas festas tradicionais:
“Aproveita, minha amiga,
que uma vida não é nada;
se não viver agora,
morrerá de madrugada.”
Depois, olho no olho, me incita a partir:
“O dia se vai.
O tempo se esvai.
Levanta-te! E anda!
Vem comigo desenhar um arco-íris no espelho das águas;
Jogar o jogo das sementes, colorir as flores, madurar o fruto.
Vem comigo acordar os homens…
brincar com as crianças na praça,
aquecer os velhinhos no pátio,
cerzir as cicatrizes;
cingir um diadema na fronte dos jovens e dos amantes.”
Vem comigo!