Todos já ouviram falar… Mas não é a mesma coisa “ouvir falar” e “saber”. O saber inclui o sabor, isto é, uma experiência pessoal, sensorial, real.
Ora, ocorre que a realidade pode ser des-interessante para certos grupos de poder que, pressurosamente, se dedicam a mascarar a realidade, substituindo-a por algum tipo de baile popular, seja este o Carnaval ou a Copa.
Como escamotear a realidade? Pela imaginação. A imaginação é aquela faculdade humana de dar forma àquilo que ainda não existe – e talvez nunca venha a existir no mundo dos fenômenos, das coisas e pessoas.
Qualquer imagem que envolva o real numa cortina de fumaça pode servir ao processo da fantasia: seja o ET de Varginha, a velhinha de Taubaté ou uma viagem à Disneylândia.
Exemplo concreto desse jogo de prestidigitadores é a Copa do Mundo no Brasil. Tão logo o bom senso da minoria pensante começou a fazer perguntas incômodas, questionando o absurdo de desviar para arenas esportivas as polpudas verbas negadas às escolas e aos hospitais, fuzilaram no horizonte da mídia – com a velocidade da luz – as primeiras mensagens publicitárias para justificar o abuso. “Quando nos divertimos, coisas incríveis acontecem!” “A imaginação começa a funcionar. Um novo mundo aparece.” “Imagina o Carnaval! Imagina a festa!”
E qual foi a isca utilizada? A imaginação! Para desviar os olhos das escolas sem telhado e dos doentes empilhados em macas no corredor dos hospitais, todos nós somos convidados a usar a imaginação e ver algo que não existe: multidões nas ruas e praças, em uniforme de fantasia, celebrando com Epicuro um Carnaval extra sob franchising da FIFA. “Imagine só em 2014!”
Claro, os foliões bebem cerveja e coca-cola. Isto é, consomem. E consumindo, são felizes. Logo – questão de lógica menor – a Copa nos fará felizes. É só imaginar… Quando turismo e entertainment se tornam prioridades, em detrimento da educação e da saúde, é hora de perguntar em que direção caminha a nação brasileira.
Não interessa a ninguém (ou interessa?) o fato de que as crianças continuarão sem receber a possível educação, os professores e médicos continuarão mal pagos, e os doentes ainda estarão sangrando no cimento frio. Puxa! Como essa gente é pobre de imaginação! Era só imaginar…
Este é apenas um caso particular. Mas já faz tempo que a TV distrai nossos olhos do essencial, divertindo-nos com imagens que hipnotizam e convidam ao sono. E o povo gosta. Dá audiência. Aplaude e… torna-se mero espectador da existência.
Enquanto isso, no andar de cima, os donos do teatro manipulam os cordéis das marionetes sonolentas. Elas comem, bebem e sonham. Seu novo lema? “Imagine só!”
E se eu SÓ imagino, mas não vejo o real, jamais assumirei o precioso método de Joseph Cardijn: “ver – julgar – agir”. Ora interessa aos poderosos que o povo entre em ação?
Comentários
Muy bueno!!!
Cada país tiene su propia fantasía para ocultar los verdaderos problemas de la gente y mostrar éxitos parciales, que sólo aprovechan algunos.
Las palabras del autor son una esperanza para no caer en la falsa realidad que nos tratan de vender.
Excelente!
É uma triste realidade.
Excelente, lúcido e coerente como de costume.