Alheamento
Nos sonhos
espaços sem contornos
neblinas
abismos ora claros
ora escuros
deslocamentos de formas indefinidas
manchas embrionárias.
Uma pessoa: de que se trata?
Um rosto?
Sonha com os olhos da mãe
cujas órbitas tateou
com a mão calosa do pai
o perfil que da irmã apreendeu
quando esta lhe sorria.
Há a realidade: a cadeira
a televisão
o cão em seu colo
o ruído do tráfego
entrando pela janela.
Nos sonhos
sobrepõem-se lácteas vias
deliquescências
brumas
inconformados horizontes.
Impossibilidade das manhãs
plenas de luz
mas incapazes
de para ele desvendarem
mísera amostra de cor.
Noite se faça
sendo perpétua
sudário se estendendo
além desertos
desprovidos de oásis.
Comentários
Uma obra prima da poética belorizontina. Os passos do autor desvendam trincheiras que vão com o vento.
Marcos Apolinário Santana (Olinda-PE)