Nelson Rodrigues – Frases 6 – Sabedoria

Publicado por Editor 31 de janeiro de 2020

Sabedoria

O problema do tapa não é o tapa, é o barulho.

Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.

Só o inimigo não trai nunca.

Começava a ter medo dos outros. Aprendia que a nossa solidão nasce da convivência humana.

Só não estamos de quatro, urrando no bosque, porque o sentimento de culpa nos salva.

Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista.

Desde o câncer no seio até a brotoeja, tudo é falta de amor.

É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez.

Qualquer menino parece, hoje, um experimentado e perverso anão de 47 anos.

O adulto não existe. O homem é um menino perene.

O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da imaturidade.

Até os canalhas envelhecem.

Há na aeromoça a nostalgia de quem vai morrer cedo. Reparem como vê as coisas com a doçura de um último olhar.

Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.

A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano! E repito: – o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão.

Deus só freqüenta as igrejas vazias.

Se Cristo, em vez de morrer na cruz, tivesse morrido de coqueluche aos quatro anos, não teria sido Cristo!

A fome é mansa e casta. Quem não come não ama, nem odeia.

Toda coincidência é inteligente.

Toda coerência é, no mínimo, suspeita.

A dúvida é autora das insônias mais cruéis.

Com sorte você atravessa o mundo, sem sorte você não atravessa a rua.

Invejo a burrice, porque é eterna.

O ‘homem de bem’ é um cadáver mal informado. Não sabe que morreu.

Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia.

O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota.

Qualquer indivíduo é mais importante do que a Via Láctea.

Não há nada mais relapso do que a memória. Atrevo-me mesmo a dizer que a memória é uma vigarista, uma emérita falsificadora de fatos e de figuras.

Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas. Hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina.

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