A fim de parar a visão do mundo, mantida pelo diálogo interno, que a pessoa tem desde o berço, não basta apenas desejar, ou tomar uma resolução. É preciso haver uma tarefa prática: essa tarefa prática chama-se o modo certo de andar. Parece inofensivo e uma tolice. Como todas as coisas que possuem poder em si e por si, a maneira certa de andar não chama a atenção.
A maneira certa de andar é um subterfúgio. O guerreiro, primeiro curvando os dedos, dirige a atenção para seus braços, e depois, olhando sem focalizar os olhos para algum ponto diretamente em frente dele, no arco que começa nas pontas de seus pés e termina acima do horizonte, ele praticamente inunda o seu tonal de informações.
O tonal, sem seu relacionamento de um-a-um com os elementos de sua descrição, é incapaz de falar consigo mesmo, e assim a pessoa se cala. A posição dos dedos não importa de todo. A única consideração é chamar a atenção para os braços colocando os dedos de vários modos fora do comum. O importante é a maneira como os olhos, ficando fora de foco, percebem uma porção de características do mundo, sem estarem muito claros quanto a elas. Os olhos nesse estado são capazes de perceber os detalhes, passageiros demais para a visão normal.
Se a pessoa conserva os olhos não focalizados num ponto logo acima do horizonte, é possível observar, de uma só vez, tudo no campo de visão de quase 180 graus diante dos olhos. Este exercício é o único meio de impedir o diálogo interno.
Caminhar no escuro: o passo do poder
O passo do poder é para correr de noite, uma maneira especial de caminhar no escuro. O tronco deve estar ligeiramente inclinado para a frente mas a espinha deve permanecer reta. Os joelhos, também, devem postar-se ligeiramente dobrados.
Você deve primeiro enroscar os dedos contra as palmas das mãos, esticando o polegar e o indicador de cada mão. Enquanto caminha, deve levantar os joelhos até o peito cada vez que dá um passo. O passo do poder é inteiramente seguro.
De noite, o mundo é diferente, e a capacidade de correr no escuro nada tem a ver com o conhecimento do trecho. A chave para isso é deixar o poder pessoal correr livremente, para poder fundir-se com o poder da noite, e uma vez que o poder tome conta, não há hipótese de deslize.
Você sabe muito bem que se pode sempre ver razoavelmente, por mais escura que seja a noite, se não focalizar os olhos em nada e ficar examinando o chão bem de fronte. O passo do poder é semelhante a procurar um lugar para descansar. Ambos exigem um sentido de abandono e de confiança.
O passo do poder exige que a pessoa fique com os olhos grudados no chão, diretamente em frente, pois o menor olhar para o lado acarreta uma alteração no fluxo do movimento. Inclinar o tronco para a frente é necessário a fim de baixar a vista, e o motivo para levantar os joelhos até o peito é que os passos têm de ser muito curtos e seguros. A princípio, haverá tropeços, mas com a prática você poderá correr tão depressa e em segurança quanto de dia. O grau de concentração necessário para ficar examinando a área defronte tem de ser total. Qualquer olhar para o lado ou muito para a frente altera o fluxo.
Poemas na espreita de si mesmo
A idéia da morte é a única coisa que pode dar coragem aos feiticeiros. Estranho, não é? Dá aos feiticeiros a coragem de serem atenciosos sem serem vaidosos, e acima de tudo dá-lhes a coragem de serem implacáveis sem serem convencidos.
Os feiticeiros espreitam a si mesmos para quebrar o poder de suas objeções. Há muitas maneiras de espreitar a si mesmo. Se não deseja usar a idéia da morte, use os poemas. Provoque um choque em si mesmo com eles. Leia ou escute enquanto cala seu diálogo interno e deixa o silêncio interior ganhar impulso. Assim a combinação do poema e do silêncio desfecha o choque.
Esse empuxo, esse choque de beleza, é espreitar. Um poema tem de ser compacto, de preferência curto. E tem de ser criado ou composto de imagens precisas e pungentes, de grande simplicidade. Os poetas inconscientemente anseiam pelo mundo dos feiticeiros. Por não serem feiticeiros no caminho do conhecimento, os anseios são tudo o que têm.
Comentários
Usando os poemas para obter a paz interior:
“A idéia da morte é a única coisa que pode dar coragem aos feiticeiros. Estranho, não é? Dá aos feiticeiros a coragem de serem atenciosos sem serem vaidosos, e acima de tudo dá-lhes a coragem de serem implacáveis sem serem convencidos.
Os feiticeiros espreitam a si mesmos para quebrar o poder de suas sombras. Há muitas maneiras de espreitar a si mesmo. Se não deseja usar a idéia da morte, use os poemas. Provoque um choque em si mesmo com eles. Leia ou escute enquanto cala seu diálogo interno e deixa o silêncio interior ganhar impulso. Assim a combinação do poema e do silêncio desfecha o choque.”