Já não resta viv’alma
Já não há testemunhas
Restei só, porém solene
De olhos mareados e pedras nos sapatos
Ouvindo o bater surdo do relógio
E o cair do orvalho lá fora
Pensando cá com meus botões
Que diabos estou fazendo aqui?
Só, neste salão arrumado
Aguardando algo que jamais virá
Apago o cigarro e pego o chapéu para ir embora
Mas eu bem sei que não vou
Eu nunca vou
Foram-se todos e eu fiquei aqui
Queria ser como todos e poder ir pra casa
Queria que fosse simples como um beijo de boa noite
Mas o mundo me dói
O noticiário me aniquila
A novela das oito me corrói
E tudo que construí
À Borges, Neruda e Kafka
Cai por terra e me leva junto
E de repente todo o mundo
È estranho e assustador
Quisera não compreender
Quisera me desprender
E fazer da novela das oito
Minha verdade universal
Mas não aprendi a desaprender
A me desapegar do que pudera ser
A ser menos não-igual