João Paulo II e as universidades católicas
Mais passa o tempo, mais cresce aos nossos olhos o vulto admirável de Karol Wojtyla, o Papa polonês, agora beatificado e a caminho da canonização. Ninguém dúvida disto: o Século XX nos ofereceu notável espetáculo de santidade, passando por Madre Teresa de Calcutá, Ir. Roger Schütz e João Paulo II.
Cada santo oferece uma ou mais facetas das virtudes de Cristo. O amor pelos pobres fulgura em Teresa. O apelo à unidade ecoa no Ir. Roger. Em João Paulo II, o diamante é multifacetado. Deus caprichou na lapidação. Impulso missionário, brilho do intelecto, fidelidade doutrinária, dedicação pedagógica, visão universal – numerosos traços de Cristo, Mestre e Pastor. É no sofrimento, porém, que o Beato João Paulo mais adere a Cristo. Entre suas dores, a cruz da universidade católica…
Wojtyla manifestou gratidão por sua passagem pela universidade: “Durante longos anos eu mesmo fiz uma experiência benéfica, que me enriqueceu interiormente, do que é próprio da vida universitária: a ardente procura da verdade e a sua transmissão abnegada aos jovens e a todos aqueles que aprendem a raciocinar com rigor, para agir com retidão e para servir melhor a sociedade humana”, Ex Corde Ecclesiae, 2.
Igualmente, ele apreciou o trabalho dos docentes católicos: “A sua missão de acadêmicos e de cientistas, vivida à luz da fé cristã, deve considerar-se preciosa para o bem das Universidades onde ensinam. Com efeito, a sua presença é um contínuo estímulo à procura abnegada da verdade e da sabedoria que vem do Alto”, Idem.
Ao ver, aqui e ali, o racionalismo e o laicismo invadirem espaços que deveriam ser tipicamente eclesiais, João Paulo II acentuava a centralidade de Cristo na universidade católica: “Guiados pelas contribuições específicas da filosofia e da teologia, os estudiosos universitários deverão empenhar-se num esforço constante no sentido de determinar a relativa colocação e o significado de cada uma das diversas disciplinas no quadro duma visão da pessoa humana e do mundo iluminada pelo Evangelho e, portanto, pela fé em Cristo, Logos, como centro da criação e da história humana” Idem, 16. Eis a lição do Papa: sem Cristo no centro, a universidade católica torna-se excêntrica. Fora de seu lugar.
Na realidade, o desejo e a aparente necessidade de obter aprovação e reconhecimento das autoridades governamentais acabaram por induzir os institutos católicos a admitir docentes inteiramente estranhos, quando não hostis, à Igreja, sua doutrina e sua visão de mundo. Passaram a contar os diplomas, os títulos, os doutorados e os textos publicados, e não o alinhamento com a fé e a doutrina.
No item 27 da Constituição apostólica Ex Corde Ecclesiae, data de agosto de 1990, João Paulo II escrevia: “Afirmando-se como Universidade, cada Universidade Católica mantém com a Igreja uma relação que é essencial à sua identidade institucional. Como tal, ela participa mais diretamente na vida da Igreja particular na qual tem sede, mas, ao mesmo tempo e sendo inserida como instituição acadêmica, pertence à comunidade internacional do saber e da investigação, participa e contribui para a vida da Igreja universal, assumindo, portanto, uma ligação particular com a Santa Sé em virtude do serviço de unidade, que é chamada a realizar em favor de toda a Igreja”.
Não se trata, claro, de mera simpatia ou de educado clima de boas relações, mas é uma questão de pertencimento e filiação. Ele prossegue: “Desta sua relação essencial com a Igreja derivam consequentemente a fidelidade da Universidade, como Instituição, à mensagem cristã, o reconhecimento e a adesão à autoridade magisterial da Igreja em matéria de fé e moral. Os membros católicos da Comunidade universitária, por sua vez, são também chamados a uma fidelidade pessoal à Igreja, com tudo quanto isto comporta. Dos membros não católicos, enfim, espera-se o respeito do caráter católico da instituição na qual prestam serviço, enquanto a Universidade, por seu lado, respeitará a sua liberdade religiosa”, Idem.
Karol Wojtyla se foi. Por certo estará rezando junto ao trono do Cordeiro. Mas duvido que tenha deixado de sofrer…
Comentários
Senhor Antonio Carlos, tive a oportunidade de ser aluno da PUCMG, e aproveito para dizer que os dirigentes não têm nenhum interesse em doutrinar os alunos para o catolicismo, mas simplesmente pegar o nosso dinheiro, que para eles não tem cor. O senhor sabia que o orçamento anual da Arquidiocese de Belo Horizonte supera 1 bilhão de reais, e que a PUC representa mais da metade disso?
Sei disso, prezado Iuri. Moravam comigo dois jovens vocacionados que faziam filosofia na PUCMG. Muitas vezes, chegavam para o almoço e iam chorar no barracão dos fundos onde moravam, feridos pelo bombardeio ateísta que haviam sofrido, naquela manhã, por mestres daquela Instituição. João Paulo II sabia disso melhor que nós dois. E sofreu mais que nós dois… Um abraço.