Pelé ou Garrincha? Bandeira ou Drummond? Independência ou morte? Como é difícil escolher!
Romário ou Maradona? Mozart ou Bach? Rosa ou azul? Sou mesmo obrigado a escolher?!
Ah! As dúvidas da noiva na véspera do casamento! Ah! A angústia do jovem na véspera da ordenação sacerdotal! Por que é preciso sofrer tanto para dar um passo?
Seria muito mais cômodo se uma espécie de destino nos arrastasse a cada passo, dando-nos o direito ou a desculpa de justificar nossos erros e loucuras: foi o Destino quem quis…
Seria bem mais fácil se um feixe de instintos puramente animais orientasse nosso comportamento. Por isso mesmo, andam à procura de genes que determinem nossos gestos e atitudes. O gene do ciúme, o gene da preguiça, o gene da luxúria – ah! como seria prático viver como escravos da genética!
Até a literatura está cheia de textos que falam do coração humano que balança entre dois desejos (afinal, o homem é um ser de desejos…). Por exemplo, o nosso poeta árcade Alvarenga Peixoto, 1744/1793, produziu o conhecido soneto “Estela e Nize”:
Eu vi a Linda Estela, e namorado
fiz logo eterno voto de querê-la;
mas vi depois a Nize, e a achei tão bela
que merece igualmente o meu cuidado.
A qual escolherei, se neste estado
não posso distinguir Nize de Estela?
Se Nize vir aqui, morro por ela;
se Estela agora vir, fico abrasado.
Mas, ah! que aquela me despreza amante,
pois sabe que estou preso em outros braços,
e esta não me quer por inconstante.
Vem, Cupido, soltar-me destes laços;
ou faz de dois semblantes um semblante,
ou divide o meu peito em dois pedaços!
* * *
O fardo que pesa em nossos ombros é o magnífico dom da liberdade. O Criador não quis autômatos, cyborgs, efeituadores de primeiro grau que respondessem ao seu toque, como o interruptor da lâmpada. A agonia de Jesus no Getsêmani eleva a seu ápice a faculdade de escolher, quando ele sua sangue e água, mas diz sim ao Pai e dá a vida para nos salvar.
Notável a observação de Victor Frankl no campo de concentração nazista: mesmo em uma situação de extrema barbárie, os homens permanecem livres para serem porcos ou santos!
Em pleno Séc. XXI, a sociedade humana mostra o desfile de homens e mulheres partidos, divididos, neurotizados, sem saber escolher o melhor na vitrine iluminada do Mercado. Violência ou paz? Luxo ou sobriedade? Ódio ou amor? Egoísmo ou solidariedade? Dominação ou partilha?
E cada um deve fazer sua escolha. A livre escolha que nos faz semelhantes a nosso Criador…