Ando pela rua de pedra e a tarde se esvai
Em candeeiros de luz elétrica e velas de neon
O sol não mais ilumina, a noite ainda não chegou.
Volto apressado do salão com a barba feita
Para o ajantarado na mansão, mas cadê minha alma?
Ficou ali atrás, na esquina, e eu sigo sozinho.
Talvez tenha sido agora mesmo, não estou certo,
Pode ter sido ontem, na fila do banco, que sei eu,
Ando sem a alma, como um frango desossado.
A sombra do poste me dá um abraço cruciante
Cheio de ironia como se dissesse já vai tarde
E a verdade é que ando escapando por um triz.
A alma se esquivou e já nem vem mais comigo
Parou na esquina a olhar um sedã zero quilômetro
Estacionado sob a lua pálida da segunda feira.
Ponho a mão no bolso, esqueço aquele poema,
Uma palavra me fugiu, depois duas, e foi-se todo,
Como o copo que cai da mão, entorna o vinho.
Um gato preto dorme no alto da varanda
Eclipsado pelos leds radiantes do televisor
E eu sigo em frente. Fazer o quê?
Aquela lá é minha casa, com sorte tenho a chave.
Aquele ali sou eu, curvado sob o peso dos sonhos.
Aquela é minha alma, parece que não volta mais.