Sacerdócio e Política – Parte 3 – Riscos e Oportunidades
Neste processo eleitoral de 2012 muitos bispos já anunciaram as sanções aos padres que desafiarem a instituição apresentando seus nomes à escolha pelas comunidades, se candidatando a algum cargo eletivo. Isso revela um fechamento da Igreja enquanto instituição. Suspender o ministério sacerdotal de padres que disputam eleições, mas tolerar políticos profissionais que usam as comunidades eclesiais para seduzir o povo é contraditório. Há padres que são advogados, diretores de escola, professores, operários. Porque um padre não pode assumir um cargo político? É absolutamente questionável o principio ético que diz: “para não dividir a comunidade o padre não deve se candidatar, não deve indicar candidatos, não deve se posicionar politicamente.” Mas muitas vezes a unidade preconizada é só ritual e aparente, não é uma unidade real, pois continuam comungando na mesa da eucaristia pessoas que são solidárias aos oprimidos, ao lado de pessoas que, no dia-a-dia, estão em estruturas de opressão.
Se o padre se posiciona politicamente, corre o risco de perder alguns fiéis, mas a comunidade ganhará em qualidade. Atitudes como esta da instituição eclesiástica apenas explicitam as divisões internas na comunidade e faz vir à tona as opções que negam a postura evangélica. Grande parte dos eleitos em nossa democracia viciada, cooptada pelo poder econômico, compra o direito de representar o povo, não se tornam seu legítimo representante. Neste sentido, o padre na política poderá contribuir com a conscientização e a mudança deste pseudo modelo de fazer política. O ministério sacerdotal não se restringe ao âmbito interno da Igreja, mas, excepcionalmente, na falta de melhores representantes, pode incluir o exercício da administração pública.
Principalmente nos pequenos municípios, na história recente, muitos padres participaram ativamente na política partidária com mandatos no executivo e legislativo deixando muitas contribuições para a melhoria de vida do povo e para o desenvolvimento das comunidades. Contudo é bem verdade que, ao avaliarmos a conjuntura da atuação dos padres na política no Brasil, não podemos deixar de considerar que alguns poucos, talvez envaidecidos pelo entusiasmo momentâneo, inebriados pelo poder ou manipulados por grupos profissionais politiqueiros, deixaram se levar por caminhos não éticos e não tiveram um desempenho à altura de sua competência, não souberam levar à pratica os discursos com que motivaram e empolgaram as multidões em suas campanhas eleitorais. Aqui no Norte e Noroeste de Minas Gerais, mais especificamente nos municípios de Montalvânia, São Francisco, Buritizeiro e Bonfinópolis de Minas, onde quatro padres foram eleitos prefeitos nas últimas eleições, um foi e continua afastado do cargo pelo judiciário, acusado de improbidade administrativa. Casos como este, também aconteceram com outros administradores padres em outros cantos do país e devem ser criteriosamente analisados e nunca generalizados. Muitas vezes, ao enveredar por caminhos não éticos e cometer erros administrativos, faltou a estes cidadãos o devido preparo, a malícia e a percepção de uma realidade presente no cenário viciado de nosso Sistema Político onde o dinheiro privado de fornecedores e empreiteiras de obras públicas é fundamental para o financiamento das campanhas, e, ao tentar justificar os meios sujos pela nobreza dos fins, caem, sem perceber em armadilhas sutis, se envolvendo com operadores de esquemas que nada têm a ver com os ideais políticos que motivaram sua caminhada. Lembro o ditado matuto: “quem faz o doce rapa o tacho, quem rapa o tacho lambe o dedo”.
Em sua grande maioria os padres em mandatos políticos têm feito administrações sérias, responsáveis e comprometidas com a causa da população. Muitos desses sacerdotes continuam amando o ministério sacerdotal e dando um bonito testemunho de compromisso ético no meio da podridão da política partidária. O desempenho do sacerdócio é qualificado. Muitas vezes a desistência do ministério sacerdotal ocorre por falta de apoio da própria Igreja, que na maioria das vezes os abandona, os excluindo da participação eclesial e pastoral.
Considerando que a grande mídia está vinculada em seus interesses às oligarquias econômicas, e que mais manipula que informa, o compromisso dos padres na política contribui para ajudar o povo a discernir qual projeto apoiar e em quem votar. Os melhores candidatos no sentido ético são geralmente os que têm menos condições para investir nas campanhas eleitorais. Como cidadãos, temos responsabilidades, direitos e deveres. Se os padres que estão na política estiverem realmente comprometidos com a emancipação social e assumirem uma postura política, seja apoiando nomes para as eleições, seja se candidatando, estarão verdadeiramente contribuindo com o projeto de Deus, através da opção por melhor qualidade de vida das pessoas e construção de uma sociedade mais justa, ética e fraterna.
A pessoa humana é, por natureza um ser político, tudo que fazemos ou deixamos de fazer é uma atitude política e da política depende a continuidade da vida que gratuitamente nos é dada por Deus. Uma espiritualidade bíblica libertadora mostra-nos a íntima relação existente entre fé e política. Não existe contradição entre fé e política. A fé autentica é intrinsecamente inerente às causas de perpetuação da vida de forma justa e digna. Como discípulos e missionários de Jesus devemos fazer a diferença. Não podemos fugir à co-responsabilidade pela gestação de uma nova civilização fundamentada na defesa da vida, buscando a sustentabilidade de forma fraterna. Não dá para ficar de braços cruzados diante da injustiça estrutural que está triturando a vida de grande parte da população. O Papa Paulo VI recordou-nos que fazer política é a forma mais nobre de amar o próximo. As conferências episcopais latinoamericanas, realizadas em Medellin (Colômbia), Puebla (México), Santo Domingo (República Dominicana) e principalmente o documento da V – Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, realizado em Aparecida-SP em maio de 2007, também destacam a necessidade de participação política dos cristãos, entre os quais estão os padres.