Escrever com vontade
De fazer existir
Por uma fração de segundo
Uma idéia pura
Um pensamento claro
Nascidos da vontade de querer dizer
Do medo de ser ridículo
E da certeza de não ter nada além da mensagem
Que não se cala
Nunca se calará
Até que seja ostentada
Grafada, editada, selada.
Escrever com vontade
De se fazer existir
E de ousar autorar
A mensagem que segue rondando
Zumbindo perniciosa aos ouvidos
Invadindo sonhos no avançado da hora
Se deixando conquistar por cada mente
Da qual virgem eterna
Que se deixa deflorar a cada noite
E volta a se oferecer a todos
Até que ninguém se disponha a ouvir
Porém o poeta não pode calar
Não pode deixar de ouvir o gemer
Não pode fugir, deixar pro vizinho
Não pode tocar cítara ou zabumba
Não pode viajar pra saturno e desligar a secretária eletrônica
Só pode se fazer caneta
E deixar nascer,
deixar nascer…
Escrever algo que nunca tenha sido
Escrito, grafado, debatido, ou sequer pensado
Tentar não plagiar
Os grandes que me precederam
Aplacar com tinta preta
Minha consciência literária
Como encontrar o tema apócrifo
Que me permita criar algo inusitado?
Às vezes me indigno
Com os senhores que tudo disseram
Que tudo interpretaram, que a tudo
Deram a luz literária que jamais poderei dar
E no fundo, o meu sonho é bem simples
Escrever algo que nunca tenha sido.
Comentários
Muito legal a poesia, Guto!