Trajetória

Publicado por Editor 29 de junho de 2012

Minha vida é um rio

E por mais piegas que a idéia possa parecer a vós

Doutos senhores donos da verdade

Isso não retira dela o caudaloso movimento de revolta

A amargura estática de contemplar o mundo

Sabendo que jamais retornarei àquele ponto

Sabendo que o rio jamais retorna

Ainda que eu suplique, clame, reclame

Jamais tornarei a ver

A curva de anteontem

Jamais tornarei a sentir

O ar da montanha ao sol da manhã

Caminharei eterno pro mar

Me juntarei a milhares que me precederam

Seguirei sorumbático, semimorto

Mas seguirei, pois minha vida é um rio

E o rio não se arrepende

Não sente saudades

O rio só vê à sua frente

Sente saudades do mar, do que há por vir

Sigo assim piegas, medonho, sorumbático, caudaloso

Sigo porque nada mais me resta

Sigo porque assim seria mesmo que não me apetecesse

Sigo, pois o mundo deve girar

Sigo, pois meu filho deve nascer

Sigo, pois quero ser eu

Ainda que não saiba o que isso quer dizer

Sigo apenas pelo prazer de olhar pra trás

E ver a curva que acabei de fazer.

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