I)
possa a vida inteira respirar poesia
eu, de outra forma, não viveria.
nem como uma fera que adormeceu
ou um gladiador em pleno Coliseo.
como quem procura o ar todo dia
penso, vez ou outra, em não respirar.
a poesia é tão essencial quanto o ar
que nos rodeia e nos molda a geometria.
sem o ar, qual de nós restaria?
II)
aqui escrevo cartas. cartas
para mim. cartas para ninguém.
cartas são poemas. ou não?
poema é respiração.
com a poesia o mundo é refeito.
tenho a poesia ao modo de refrão,
insubstituível como arroz e feijão.
III)
há poesia dura e táctil ao sentido
além da que habita o ouvido.
poesia sobretudo pelo silêncio
que nela há, tal qual o canto.
uma coreografária e nítida pintura
cada palavra contida em moldura.
com a poesia o mundo é refeito
por ela me levanto com ela me deito.