wesley pioest & antonio angelo
Nessas manhãs
em que acordo
dividido ao meio
saltam do corpo
ora um canalha
ora um devasso
ora um kafka paraguaio
Nessas manhãs
em que caio
em mim mesmo
ora exilado
ora estrangeiro
ora um balaio de gato
não saberia me definir
Nessas manhãs
em que acordo
de mim mesmo exilado
descubro-me sem pátria
sem família e sabendo
que pouco adiantaria
cruzar mares em busca
de sentido pra vida
Talvez o melhor a fazer
seja – como aquele cão
que segue rua abaixo
destituído de destino
e ausente de passado
seguir junto à sombra
que desliza na calçada
Ou quem sabe
burocrata do desalento
fechar as janelas ao sol
e na obscuridade do quarto
entornar absintos
na vitrola a tocar
guaranias de risíveis
enternecimentos
Nessas manhãs
em que acordo
dividido ao meio
a face desfeita no espelho
canalha pária devasso
me pego reflexivo
pronto para descer a escada
que me leva ao porão
onde a cicuta espera
pelo derradeiro passo