Eu e o velho, a minha sombra
sobre as pedras da rua caminhavámos
noite e dia, eternamente.
Vamos obscuros a viajar
por estradas antigas vastas do mundo
eu e ele, envelhecendo.
Unha e carne, eu, meu velho,
como fôssemos imagem e semelhança,
tal pai, tal filho.
O olho ruim e a calva brilhante,
a dolorida ossatura empenada ao extremo
a furiosa calma torturante.
Eu e o velho, um em dois
para ao final um ao outro suceder,
rebeldes, teimosos.
Vai um, outro depois
também irá, depois tudo será apagado
e faremos silêncio.
Nenhuma poesia, palavra
somente o filho e o pai no eterno cativeiro
do mundo sem fundo.
A terra nos traga finalmente
até a nuvem o rio a paragem infinita
o catre das lembranças.
Eu e o velho, onde estará?
Para onde irei desta jornada encontrá-lo?
Tanta a vida. Para o nada.