Nestes tempos bicudos de generalizado relativismo, chega-se ao ponto de afirmar que “cada um tem a sua verdade”. E não percebem que duas verdades opostas se desmentem. No mínimo, uma delas é mentira.
Cecília Meireles sabia disso: “Ou se tem chuva e não se tem sol, ou se tem sol e não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva!”
Apesar da lição poética de Cecília – que se dirigia às crianças para corrigir os adultos – sempre que escrevo algo de modo categórico, alguém reclama que estou tentando impor meu ponto de vista. Uma ofensa às liberdades democráticas. Na geléia geral do pensamento burguês, ser definido incomoda…
Estive relendo um pensador da primeira metade do século XX, o belga Joseph Schrijvers, que fala exatamente sobre nossa propensão à vida escrava. Eis o que ele diz:
“Quanto mais o homem se acredita livre, tanto mais ele obedece, ainda que o não perceba. Ele obedece à opinião, aos costumes, às ideias dominantes, à moda, às suas paixões, a suas necessidades reais ou fictícias, à sua imaginação e a seus caprichos. Ele obedece a seus patrões e mais ainda a seus subordinados; ele obedece a seus semelhantes, a suas maneiras, a seus exemplos, ao seu sorriso.”
Não é curioso? Alguém sorri para mim e eu me sinto obrigado a sorrir também. Logo, obedeço…
Prossegue Schrijvers: “Todo homem, quer queira, quer não, é sugestionado pelos livros que lê, as apreciações que ouve, as críticas que sofre, os elogios que procura. Assim, a maior parte dos homens, acreditando serem livres, não são mais que escravos”.
Então, não existem homens livres? Existem, mas são raros. Um deles foi o filósofo Diógenes, que abriu mão de todos os seus bens e reservou-se apenas um barril sem fundo, que lhe servia de casa e vestuário, e um caneco para beber água. Certo dia, na praça, viu um moleque que se aproximou da fonte e bebeu na concha da mão. Diógenes pegou seu caneco e atirou-o bem longe: ainda não era tão livre quanto imaginava…
Outra vez, Diógenes tomava sol à beira da estrada, quando passou o séquito de Alexandre Magno. Alguém alertou o Imperador para a presença do filósofo. Alexandre, que apreciava a filosofia, desceu do cavalo, aproximou-se e perguntou respeitosamente em que poderia servir a Diógenes. Este respondeu: “Saia da minha frente, que você está fazendo sombra em mim!”
Homens livres são raros. Um deles foi São Francisco de Assis, que dispensa comentários. E houve também uma admirável mulher do século XX, Madre Teresa de Calcutá, que deixou a segurança de seu colégio, toda cercada de menininhas cheirosas, para mergulhar nas favelas imundas de Calcutá, onde pôde servir aos mendigos, aos hansenianos e às crianças abandonadas. Em 25 anos, Madre Teresa arrebanharia cerca de 5000 seguidores em todo o planeta. Parece que a liberdade atrai as pessoas.
Claro, nós não fazemos o mesmo porque ainda somos escravos…
Comentários
Escravos do século XXI deixou em mim um gosto amargo daquilo que sempre senti e lutei contra: ser escravo. Santini, você foi grande ao expor a questão da liberdade e escravidão. Às vezes leio comentários na Internet, sobre liberdade disso, daquilo e vejo como o pobre comentarista é ele mesmo um escravo do que acha ser liberdade. O engraçado nisso tudo é que há uma orquestração para fazer com que o povo se pense livre, sendo escravo de tudo e de todos.
Lord Jesus, Lord Budha, Ramatis, Shaman Gideon Dos Lakotas, St. Francis, Mahatma Gandhi, what other proof do you want?
The size of a man is the exact size of his endevours/works.
Our ego, that is the rational, logical mind/brain, is a three dimentional instrument given to us to experience the relative world. It can never be satisfied, it can never feel complete, it will always be changing its ideas about things. As long as we are belittled into its soverignty, we are truly slaves. The question is then: WHO are you?
haribol!