Das mil e uma noites

Publicado por Wesley Pioest 18 de fevereiro de 2011

É tarde
Os mundos caíram
Desabitadas as noites
Passeiam na escuridão
Pela toda eternidade
Rios de leite da galáxia
Desaguam no infinito
Uma última vez

Inscreverás na pedra o poema desta vida?
Depois da vida outra vida haverá,
Outra música ouviremos?

O bardo reclina a fronte
Sob o peso inclemente
Da civilização

Entre ampulhetas de areia e vidro
Telas de LED e de LCD
Teclados onomatopéicos
E-mails devoradores
O amor é uma lembrança
Transformada em palavras

Do fundo do universo
Estrelas dizem: é agora,
E então o bardo canta
O rio da antiga aldeia
E está de volta ao início

Vestido em sua pele
Ungido de doce fúria
Repercute os labirintos
Até se perder duplicado
Em ser imagem e espelho

Poetas não vêem de perto
Poetas andam sozinhos
Poetas não sabem nada
Poetas fazem perguntas

O novo é o velho tempo
Misturado o tempo todo
Em nossa leve fragrância
De alma irrespirável
A repetir-se, uma vez mais

Até que o mundo renasça
A longa noite nos traga
Mil dias novos em folha
Para o bardo reviver
As suas quatro estações

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