É tarde
Os mundos caíram
Desabitadas as noites
Passeiam na escuridão
Pela toda eternidade
Rios de leite da galáxia
Desaguam no infinito
Uma última vez
Inscreverás na pedra o poema desta vida?
Depois da vida outra vida haverá,
Outra música ouviremos?
O bardo reclina a fronte
Sob o peso inclemente
Da civilização
Entre ampulhetas de areia e vidro
Telas de LED e de LCD
Teclados onomatopéicos
E-mails devoradores
O amor é uma lembrança
Transformada em palavras
Do fundo do universo
Estrelas dizem: é agora,
E então o bardo canta
O rio da antiga aldeia
E está de volta ao início
Vestido em sua pele
Ungido de doce fúria
Repercute os labirintos
Até se perder duplicado
Em ser imagem e espelho
Poetas não vêem de perto
Poetas andam sozinhos
Poetas não sabem nada
Poetas fazem perguntas
O novo é o velho tempo
Misturado o tempo todo
Em nossa leve fragrância
De alma irrespirável
A repetir-se, uma vez mais
Até que o mundo renasça
A longa noite nos traga
Mil dias novos em folha
Para o bardo reviver
As suas quatro estações