Autoconhecimento

Publicado por Carlos Bitencourt Almeida 7 de janeiro de 2011

Alguém pode colocar diante de si o ideal de calma, serenidade, desapego. Estas são metas que, se forem vividas na plenitude, podem tornar a vida mais leve, mais feliz. Porém entre o desejo de ser calmo e ser verdadeiramente calmo pode existir uma longa distância. Há pessoas que, possuídas por este desejo, ficam cegas para perceber os sentimentos que ocorrem dentro delas. Podem estar sentindo raiva, medo, ciúme ou tristeza, mas não percebem.

Outra pessoa que a conheça bem, que tenha com ela convivência íntima, pode estar percebendo o sentimento, mas a própria pessoa não. Se a pessoa vive com freqüência certo tipo de sentimento, sem dar-se conta, ele vai se acumulando dentro dela, vai crescendo, como uma represa que vai recebendo água.

Pode chegar o momento em que aquilo que estava sendo contido se derrame, exploda. A pessoa tem então uma terrível crise de raiva, medo ou tristeza, e fica confusa. Não entende porque foi capaz de dizer ou de fazer algo com tanta raiva, ou porque desabou tão intensamente movida pelo medo ou pela tristeza.

Autocontrole, saber conter-se, é uma qualidade indispensável à vida. Sem isto estaremos sujeitos a cometer erros graves freqüentemente, levados pela impulsividade. Mas se o autocontrole não estiver complementado pelo autoconhecimento podemos nos tornar possuídos subitamente por sentimentos que foram se acumulando dentro de nós ao longo do tempo, e que, mais cedo ou mais tarde, transbordam, invadem nossa consciência ou nossos atos.

Raiva, medo, tristeza, desprezo, ciúme, inveja, cobiça, vaidade, são sentimentos que vivem em todos nós. Por mais elevado que for o nosso ideal moral não podemos ignorar o que vive em nós. Só aquilo que conhecemos, que percebemos, podemos transformar, dissolver. Aquele que mergulha com coragem dentro de si mesmo poderá perceber que tudo que é humano está em si. Temos que ter a serenidade para perceber isto. O que pode nos diferenciar do criminoso, do malfeitor, é a intensidade dos sentimentos, a força que eles tenham para gerar atos exteriores e também nossa capacidade de autocontrole. O impulso a construir, a ser generoso, pode ser poderoso em nós, e o impulso destruidor, egoísta, pode ser fraco, pequeno. Ou o inverso. Porém tudo isto está vivo dentro de cada ser humano, é nossa herança comum, aquilo que pode nos permitir compreender uns aos outros.

Perceber o mal em si não é agir. Aquele que percebe pode tentar com­preender, dissolver em parte, enfraquecer o impulso, manter-se no controle. Mas aquele que não percebe e acha que isto não existe dentro dele, pode um dia constatar que foi capaz de atos que o envergonham profundamente.

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