Armazém do Zé: “O Vaivém da Política Mineira”

Publicado por José Alves 25 de agosto de 2010

As eleições estaduais em Minas estão seguindo o mesmo caminho das eleições de Belo Horizonte. Quem não vive o dia-a-dia e não conhece o Velho Testamento da política mineira fica desnorteado. Para desorientar os profetas de plantão, o eleitorado montanhês anda em zigzag. Eleições de Belo Horizonte, 2008. Márcio Lacerda, candidato híbrido de tucanos e petistas, rivais na política nacional mas acochambrados na política de Curral Del Rei, começou muito acima dos outros: era o “Candidato da Aliança”. No primeiro turno foi orientado pelos proconsules a não ir aos debates com os “nanicos”.

Que ficasse despreocupado, pois seus fortes padrinhos iriam colocá-lo dentro do gabinete, sentado no trono … com a mão na caneta! Eram as instruções. Pois bem, “quem acha que mineiro é bobo, cai na boca do lobo” (Livro do Genesis). O candidato que foi para o segundo turno contra Lacerda era sem expressão, apenas foi o depositário da indignação de um eleitorado plebeu que se sentiu subestimado pelos príncipes da nobreza.

Lacerda podia ser um político inexperiente, mas jamais um poste. Guerrilheiro urbano no fim dos 60’s empresário bem sucedido e digno de respeito nas elites públicas e privadas da Capitania das Minas do Ouro, reputação ilibada, desvencilhou-se dos tutores, e no segundo turno mostrou a que veio: “Agora é comigo!” (Exodus).

Como Moisés que saiu do Egito com o povo judeu, disposto a cruzar o deserto, partiu para os debates no mano-a-mano e permitiu que os belorizontinos vissem que o poste tinha capacidade de buscar a própria seiva. Ainda não floresceu, pois está cercado por uma equipe que lhe foi imposta, mas é de se esperar que ainda rompa as amarras, ainda tem tempo para dar flores e frutos.

Mas, o que esta parábola tem a ver com a sucessão estadual de 2010? O filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, o/a cara da foto acima, considerado o símbolo maior do idealismo, disse de certa feita que a história sempre se repete, ou seja todo evento histórico é no fundo a repetição de outro que pode ser encontrado no passado (dica de ouro para os profetas modernos). Discípulo de Hegel, que mais tarde criou sua própria escola, Karl Marx, após ter participado dos episódios revolucionários da Comuna de Paris (1848-1851) escreveu sua obra mais vibrante, apaixonada e rica em estilo,  “Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte“, ou “O Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte”. É nesta obra que afirma sua força literária, superando em definitivo o mestre:

“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como comédia (farsa)”.

Pois bem, se esses dois filósofos alemães merecem crédito, a eleição de Lacerda foi uma tragédia, ou um drama. A de Hélio Costa vai caminhando para se tornar uma comédia, uma farsa. Do alto dos índices, com que sempre começa sua participação nas eleições majoritárias em Minas Gerais, Costa, como todos previam, vai “descendo a rua da ladeira” (Levítico). Como no Velho Testamento do futebol “quem não faz gol leva” (Números) “os pontos perdidos vão sempre para o outro lado” (Deteuronômio), por menos expressivo que seja. Todos já perceberam que a eleição mineira vai para o segundo turno. Da mesma forma como Lacerda começou o 2º turno, Costa deve beijar a lona. Mas será que, como Lacerda, terá capacidade de se levantar antes que o juiz conte até dez? “Tempo de morrer de rir e tempo de chorar em cântaros” (Eclesiastes).

Hélio Costa gastou seu dinheiro contratando a peso de ouro um publicitário picareta e inescrupuloso que lhe manda se esconder atrás de seu vice apático e amorfo. Mas ainda tem um bala no tambor. Se acreditar em Hegel, pode escapar da ironia de Marx, pode mostrar aos mineiros que não é somente uma “Memória dos Tempos Fantásticos”, título sugestivo de seu recente livro, que não é apenas um truque de imagem. Além de se livrar da armadilha em que se meteu, precisa mostrar que tem vontade própria, que pode buscar a própria seiva, que sabe a que veio, que tem algo melhor a oferecer, que tem um contraponto a fazer. Caso contrário estará apenas confirmando os prenúncios de Marx de que a história sempre se repete, da primeira vez como tragédia e na segunda como comédia, como farsa, da qual ele se tornará o personagem principal.

Comentários
  • Adilson 5226 dias atrás

    O que está acontecendo é que todos têm medo do Aecinho. Dizem que o prédio dele está caindo mas ninguém vai lá conferir. Sei que endividou muito o Estado mas ninguém está disposto a tocar nas feridas dele. Parece até o boi da cara preta.

  • Renato – Sabará – MG 5226 dias atrás

    Como disse o Carlos acima citando o jornal Folha de São paulo Minas é o estado pêndulo. Se o Lula ficar com medo do Aécio e abandonar o Hélio o Serra pode vir para cá, (o que ele já está fazendo) e pode começar a gostar do jogo. Cuidado com o pendulo. Minas é só o segundo eleitorado, mas vota junto quando o assunto é o Brasil.

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