Em 1986, o então senador Itamar Franco em campanha para o governo de Minas me convidou para participar de uma reunião com Darci Ribeiro, e uma das coisas que ele disse é que “Minas tinha dois grandes produtos para exportação: minérios e mineiros”.
Com a licença e as desculpas à Dona Modéstia, é imperativo inserir na agenda da inclusão social e do desenvolvimento os valores da mineiridade, que são sem dúvida os mais condizentes com a democracia.
Guimarães Rosa disse que “O mineiro principia do céu para o chão”. O que seria principiar do céu para o chão? É ter utopias, mas também saber lidar com a realidade sem se perder, sem perder a dimensão do horizonte, de um belo horizonte. Principiar do céu é sonhar alto, pensar grande, ousar, reviver os sonhos libertários e de justiça dos inconfidentes e ter a coragem e o pé no solo e no subsolo dos mineiros. Falamos dos mineiros, não só dos nascidos ou criados no estado, mas do trabalhador das minas, aquele que cava fundo, trabalha duro, rasga o chão em busca do ouro. Pensar a mineiridade, não só no jeito de ser, e também nas nossas tradições é pensar democracia .
Há muitos anos me apaixonei por Alceu de Amoroso Lima, também chamado Tristão de Athayde. Recordo do seu livro A Voz de Minas onde ensina que a síntese da brasilidade é a mineiridade: é ela que integra o Sancho e o Quixote, o sonho e a realidade, o teórico e o prático, o racional e o emocional e porque não: o econômico e o social.
Como fazer rupturas e promover mudanças, criar nova massa crítica, novos consensos e pactos, criar vontades e forças políticas para manter o que deve ser mantido e mudar o que deve ser mudado, inclusive no plano formal, no marco regulatório legal dentro da mais perfeita regra do direito e do jogo democrático?
Precisamos de novos paradigmas, mas construí-los não é tarefa, nem decisão, nem sequer possibilidade para um grupo de notáveis ou iluminados. Criar novos paradigmas exige um processo de construção coletiva, com incorporação de amplos atores da sociedade, contemplando sua diversidade; a abertura de portas e janelas, novos canais de comunicação, mecanismos de participação e controle social. Enfim, só se cria novos paradigmas que atendam à noção de desenvolvimento para todos no terreno fértil de uma vigorosa relação estado e sociedade fundada na ética da autenticidade, do respeito, do acolhimento, da simplicidade. Numa ética que se funda e se refunda cotidianamente parametrizada pelos valores universais da civilização e também pelos da mineiridade: serão eles diferentes?
Abrir “portas e janelas institucionais” não só assegura legitimidade aos processos de mudança que de “per si” geram medos, resistências, desconfianças, oposições, mas também assegura a eficácia, efetividade e enriquece ainda o processo, o conteúdo e o resultado das propostas de mudança. As instituições ganham ao incorporar o saber e a co-responsabilidade dos diferentes atores da sociedade que podem orquestrar em conjunto o processo de mudança necessário e desejável. É preciso fazer o Sancho entrar em cena!
Comentários
Ótimo texto, retratando nosso estilo de mineiridade.