Canabis, recurso natural renovável – parte VIII

Publicado por Felipe Arellano 26 de agosto de 2024
emissão de co2

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Continuação da parte VII:

Canabis, recurso natural renovável – parte VII

O cânhamo ou canabis tem sido cultivado pela humanidade por milhares de anos devido aos seus múltiplos usos. No entanto, atualmente, seu enorme potencial para contribuir com a sustentabilidade ambiental é frequentemente negligenciado. Enquanto o uso medicinal e adulto recreativo da canabis têm atraído grande parte da atenção pública e da pesquisa científica, os benefícios ambientais do cultivo de cânhamo permanecem em grande parte desconhecidos do público em geral.

Uma das características mais surpreendentes do cânhamo é sua capacidade de sequestrar carbono de maneira extremamente eficiente. Um hectare de cânhamo sequestra de 9 a 15 toneladas de CO2, quantidade semelhante à capturada por uma floresta jovem, mas o cânhamo leva apenas cinco meses para crescer.

À medida que a humanidade busca formas de reduzir as emissões de carbono e sequestrar o excesso de CO2 da atmosfera, o cânhamo emerge como um aliado natural ancestral altamente eficaz.

Hempcrete

Além de sua capacidade de sequestro de carbono, o cânhamo também oferece uma ampla gama de aplicações na produção de materiais ecológicos. De acordo com as pesquisas de Darshil Shah, pesquisador da Universidade de Cambridge, o cânhamo pode ser usado para produzir “biomateriais de carbono negativo” que substituem compostos menos sustentáveis, como fibra de vidro e alumínio, em várias aplicações, incluindo construção. Um bom exemplo disso é o “Hempcrete”, um material de construção sustentável feito a partir da mistura de fibras de cânhamo, cal e água, usado principalmente como isolante térmico e acústico.

Esses materiais não apenas reduzem as emissões de carbono da atmosfera, mas também promovem a biodiversidade, pois, ao contrário dos monocultivos, como os de árvores usadas na produção de madeira e papel, por exemplo, o cânhamo pode ser cultivado em rotação com outras culturas.

O cânhamo é uma cultura resistente que pode crescer em uma ampla variedade de climas e solos, o que o torna uma opção viável para agricultores em todo o mundo. Isso contrasta com os padrões de desmatamento e perda de habitat que frequentemente acompanham a expansão da agricultura industrial.

Produtos como biodiesel, biogás e bioplásticos são excelentes alternativas ecológicas aos seus equivalentes poluentes derivados do petróleo. As vantagens da produção de cânhamo são muitas demais para continuar ignorando essa planta ou limitar o debate exclusivamente a seus usos medicinal e adulto recreativo.

Acredito que essa informação deve ser considerada ao pensar em políticas que mitiguem o impacto ambiental negativo que os seres humanos têm causado na Terra desde a Revolução Industrial e merecem uma urgência na revisão das leis que proíbem seu cultivo em qualquer lugar do mundo.

A psicoatividade de algumas variedades de canabis não pode continuar sendo um impedimento para sua utilização artesanal ou industrial. Você imagina leis que proíbam o cultivo de rosas porque seus espinhos têm o potencial de ferir a pele das pessoas? Ninguém pode negar que crianças e adultos podem sangrar ao manipular uma rosa de maneira inadequada. Os proibicionistas poderiam até argumentar sobre possíveis perdas materiais, como a destruição de uma calça ou uma bola de futebol.

Se existissem esse tipo de leis “anti-rosas”, perderíamos a possibilidade de desfrutar da beleza e do aroma dessas flores em nossos jardins. Não é mais inteligente usar e manipular rosas com cuidado e sabedoria, em vez de descartar radicalmente seu plantio por sua “periculosidade”? Essa é a atitude que me parece mais adequada em relação ao cultivo pessoal ou industrial da canabis, independentemente do uso que se queira dar.

Hoje, no ano de 2024, milhões de pessoas em muitos lugares do planeta podem ser encarceradas por cultivar cânhamo em suas terras com o único objetivo de produzir uma simples corda de forma artesanal com as fibras naturais de seu caule. Pensemos: Qual seria o crime? Quais seriam, nesse caso, os danos ao meio ambiente ou à saúde das pessoas que justifiquem o encarceramento? Não sei vocês, mas isso, além de injusto, me parece absurdo. Se nos regem leis injustas e absurdas, cabe a todos nós exigir justiça da maneira que nos for possível, independentemente do lugar ou país em que estejamos.

Minha ideia de produzir um documentário que mostre essa planta como um recurso renovável surge como uma resposta natural depois de ter observado que fomos expostos a várias décadas de desinformação sobre esse assunto. O discurso oficial foi, e ainda é em muitos lugares do mundo, de que a canabis era ruim para a saúde. Eu, como pesquisador independente, afirmo exatamente o contrário. Bem utilizada, é boa para a saúde do corpo e do meio ambiente.

Tem sido um longo caminho de pesquisa, com altíssimas doses de incompreensão e preconceito. Vou ser sincero, não foi fácil. Mas aqui estou, continuo de pé e o projeto está avançando. Atualmente, contamos com o apoio de vários especialistas que aceitaram participar tanto de entrevistas quanto da própria revisão do conteúdo que será entregue. Depois de tantos anos remando sozinho, o apoio é muito bem-vindo.

Termino este texto citando o rapper venezuelano Canserbero, que antes de ser assassinado cantou:

“É a ignorância que torna os povos pobres
e os homens de joelhos são mais joelhos do que homens”

(Continua na parte IX)

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