Receita de padre

Publicado por Antonio Carlos Santini 2 de maio de 2024
Dom Bosco 1

Dom Bosco.

Há muitos modelos de sacerdote. Perfeito, só o primeiro. O protótipo: Jesus Cristo, sumo e eterno sacerdote. Depois dele, cada momento da História exigiu pastores que pudessem responder às grandes questões de seu tempo. Em tempo de heresia, catequistas. Em tempo de ignorância, mestres. Em tempo de perseguição, mártires. O importante é que a Igreja saiba discernir qual o tipo de sacerdote reclamado pelos desafios de cada época.

Hoje, 60 anos após o Concílio Vaticano II, depois de se ter descartado com espantosa rapidez o modelo de padre pré-conciliar, ainda estamos tateando à procura da nova formatação. É natural, há um forte sentimento de “perda de identidade” rondando muitos membros do clero católico.

O fato de ser um leigo, e não um padre, dá a este cronista de província ampla liberdade ao tratar deste tema. Liberdade que, em geral, os próprios sacerdotes não têm, pois poderiam ser mal compreendidos. Não poucas vezes, ouvindo sacerdotes em aconselhamento e que buscaram um leigo exatamente por entrever no leigo uma acolhida mais fácil, tenho percebido o profundo sofrimento do homem-de-Deus que insiste em se apresentar como homem-dos-homens…

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E aí está, exatamente, o primeiro critério para a formação de sacerdotes: a noção de estar separado dos homens comuns, ainda que mais, tarde, transfigurado, seja a eles devolvido como puro DOM de Deus. Ora, ainda estão insistindo em dizer que o padre é um “homem comum”. E não é. Se o jovem insistir em ser “comum”, nunca será padre. Afinal, o padre perdoa pecados e consagra o Corpo de Cristo. Tarefas nada comuns…

Decorre do primeiro critério um segundo: a noção de “consagração”. Abrir mão de si mesmo e “ser para”… Ser para Deus, ser para o rebanho, ser para o mundo, ainda que seja a comunidade o “seu” mundo de encarnação. Um pagão pode ver nisso uma negação do próprio ser. O cristão, que conhece Cristo, é capaz de ver a própria razão de ser.

Um terceiro critério para a formação de bons padres está na educação para o fracasso. Sim, o padre é o semeador de uma seara que dificilmente será colhida por ele mesmo. E apenas repito as palavras do cardeal E. Clancy, ex-arcebispo de Sydney, Austrália: “Eu me espanto de que certos jovens padres, recentemente ordenados, há dois ou três anos, deixem o ministério, não em razão do celibato, não por causa de uma crise de fé, mas pelo fato de que são incapazes de suportar o fracasso. Eles jamais aprenderam a integrar a Cruz em suas vidas”.

Ora, o homem que vive e fala em nome de Cristo, deve ser o homem da Cruz. Aí estão os santos Cura d’Ars e Pio de Pietrelcina para ilustrar bem o estilo sacerdotal de que estamos falando. Mesmo sem agressões demoníacas e campanhas de difamação, o sacerdote que atualiza a vítima do Calvário será sempre um vizinho do sofrimento.

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Outros critérios? Diplomas de teologia? Falar latim? Domínio das técnicas de animação comunitária? Especialização em pastoral? Tudo isto é secundário. Um homem que se deixe separar, consagrar e crucificar, aí está um modelo sacerdotal que convém a todos os tempos e a todos os lugares. É assim que os padres da China, hoje, aguentam o rojão. É assim que os monges da Argélia se deixaram degolar. É assim que o missionário da Amazônia se deixa moer.
E uma vez moído, aí está o trigo, branco, puro e fino. Um trigo para alimentar um povo com fome e sede de Deus…

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