Canabis, recurso natural renovável – parte II

Publicado por Felipe Arellano 21 de novembro de 2023
canabis folha

canabis folha

(continuação da parte I)

Canabis, recurso natural renovável – parte I

Minha primeira colheita foi de apenas três plantas. Eram meus bebês. Meus amigos admiraram seu aroma e beleza. Em algumas reuniões familiares eu tinha que ocultar os vasos de flores para não alarmar as tias mais conservadoras.

Tudo ia bem com meu cultivo, sem pragas ou deficiências de nutrientes. Meu estudo sobre cultivo tinha literalmente dado bons frutos, ou melhor, boas flores. O tempo de colheita no hemisfério sul costuma ser em março ou abril. Era meados de março de 2003, eu ainda não havia colhido, quando algo inesperado aconteceu. Num fim de semana, me envolvi em um grave acidente de carro junto com amigos. Pato, um dos meus melhores e mais queridos amigos, partiu deste plano. Doeu um pouco no corpo e muito na alma. Às vezes, digo que foi um antes e um depois na minha vida.

Foi um período de muita introspecção, leituras e reflexões. Eu poderia ter afundado na tristeza, mas meu grande amigo Pato se encarregou de se comunicar e me dizer que ele não poderia estar melhor. Eu sei que há muito ceticismo no ocidente sobre esses temas, mas dou aqui meu testemunho. Em alguns sonhos e experiências muito intensas, senti sua “presença” e entendi sua mensagem. Ficou claro para mim que o nosso corpo físico é apenas um veículo para o espírito. Conto isso para explicar como começou minha pesquisa sobre esta planta, há muitos anos, num contexto de hipersensibilidade. Uma pesquisa “de rua”, como costumo dizer, porque não venho do mundo acadêmico. Sou o que às vezes é chamado de “terapeuta alternativo”, um simples acupunturista, mas que pode ler, escrever, pensar e questionar.

Devido às fraturas causadas no acidente, fui operado em uma perna e um braço. Eu estava obrigado ao repouso. Só me levantava para ir ao banheiro pulando em uma perna e voltava para a cama. A cada poucos dias, eu me animava a dar mais pulos para ir ver as “meninas” no quintal. Eu tinha que ver qual era o ponto de maturidade exato para a colheita. Até que finalmente chegou o dia. Com um braço e uma perna, me virei para fazer todo o processo, que não é tão simples como se poderia pensar. Uma alface, Lactuca Sativa L., é colhida, lavada e está pronta para consumir. Neste caso, há várias etapas: corte, manicure, secagem e cura. Tudo para garantir a melhor qualidade possível nas flores. Sabor, potência, umidade correta, etc.

Não me lembro quem, sabendo do meu evidente interesse pela planta, me deu de presente um livro de receitas de canabis. Ao lê-lo, fiquei surpreso com a análise nutricional da semente. Era uma maravilha alimentar para os humanos e muito poucos sabiam disso. Uma ignorância que, infelizmente, persiste até hoje. Nunca pude esquecer essa informação: proteínas de alta qualidade, excelente fonte de fibras, vitaminas, minerais e uma proporção ótima de ácidos graxos essenciais ômega 3 e 6 pro corpo humano. Ao contrário da sua flor, a semente não tem nenhum efeito psicoativo, o que permite o consumo seguro de crianças e adultos. Na verdade, o mesmo livro continha receitas psicoativas com folhas e flores e não psicoativas, com sementes. Eu já tinha lido que o cânhamo, Cannabis Sativa L., era matéria-prima para papel, cordas e vestimentas há milhares de anos, mas saber também que era um excelente alimento me surpreendeu e me deixou intrigado.

Não sei se notaram que incluí anteriormente o nome científico da alface. Depois coloquei o do cânhamo. Ambos contêm “Sativa L.” em suas denominações. O “L.” vem do sobrenome do cientista e botânico sueco Carl Nilsson Linnaeus, que foi quem classificou cientificamente a alface e o cânhamo em seu livro ‘Species Plantarum’, publicado em 1753. Sativa significa “cultivada” em latim. A mesma sativa presente no nome científico do arroz, Oryza Sativa, ou em derivações que significam o mesmo, como no caso do alho, Allium Sativum.

O que teriam em comum, o canabis, a alface, o arroz e o alho para serem considerados cultiváveis? A resposta parece bastante óbvia: Essas plantas foram amplamente cultivadas por seres humanos. Em termos gerais, existem três tipos ou variedades de canabis, Índica, Sativa e Ruderalis. Existem algumas diferenças de tamanho ou concentração de princípios ativos, mas nestes artigos, ao falar de canabis falaremos da variedade Sativa, que é a mais alta e, por isso, fornece fibras mais longas para a produção de têxteis e outros tipos de materiais como papel ou materiais de construção.

Não posso dizer exatamente em que data senti o que hoje chamo de “dever ético” de divulgar os benefícios do canabis além do medicinal e recreativo, mas posso dizer que foi um caminho bastante longo e que, à medida em que avancei, novas informações e reflexões apenas confirmaram minha convicção de que esta planta tem o potencial de melhorar a saúde, economia e meio ambiente de milhões de pessoas ao redor do mundo pela sua grandiosa adaptabilidade a diferentes tipos de solos e climas.

Diante da incrível versatilidade da planta, com o tempo cheguei à conclusão de que era necessário e útil dividir em cinco os principais usos que se podem dar ao cânhamo. Aqui só vou nomeá-los e em próximos artigos vou escrever sobre cada um deles.

1. Uso nutricional
2. Uso medicinal
3. Uso adulto (recreativo/criativo)
4. Uso industrial/artesanal
5. Uso espiritual/ritual

Vocês não imaginam como é bom escrever estas linhas depois de anos e anos de silêncio.

(continua na parte III)

Canabis, recurso natural renovável – parte III

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