Renovação carismática, outra visão

Publicado por Antonio Carlos Santini 17 de julho de 2023
Foto RCC Oração ar livre

Foto RCC Oração ar livre

Aqui no Facebook e outras mídias, vejo ataques contra os grupos carismáticos em nossa Igreja. Será que esses críticos conhecem de perto a RCC – Renovação Carismática Católica?

As críticas costumam concentrar-se em dois pontos: os chamados “dons” fora do comum – como oração em línguas, repouso no Espírito e palavra de conhecimento – e celebrações eucarísticas com certa liberdade em relação às rubricas do missal.

Parte das críticas merece consideração. De fato, às vezes a oração em línguas é apenas um comportamento mimético, de imitação. Pessoalmente, fiz contato com grupos dirigidos por pessoas que manifestavam desequilíbrio psicológico. E o clima das celebrações nem sempre favorece a oração, com a alegria e a descontração além da medida, como um samba utilizado para canto de comunhão.

No entanto, e aqui peço a atenção dos críticos, o valor da RCC vai muito além dos grupos de oração e de suas missas com aparência de “show”. Passo a listar seus pontos de valor:

1. A RCC sempre estimulou a LEITURA E MEDITAÇÃO COM A BÍBLIA. A tradução brasileira da Bíblia que supera de longe as outras em número de exemplares publicados é a chamada Bíblia da Ave Maria, Maredsous, década de 50, contando já com 220 edições, exatamente a tradução utilizada pelos grupos carismáticos. O livro “A Bíblia foi escrita para você”, do Pe. Jonas Abib, tem sido a introdução à Escritura para uma multidão de fiéis. Já nas paróquias, o contato com a Escritura quase sempre se limita à liturgia da Palavra na missa.

2. A RCC tem sido uma ESCOLA DE ORAÇÃO. O católico em geral privilegia a oração de petição, com a intercessão dos santos. Na RCC, insiste-se em outras formas: louvor, adoração, ação de graças. Os adeptos da RCC são estimulados a seguir um programa de oração pessoal e familiar. A RCC oferece fins de semana conhecidos como Experiência de Oração.

3. A RCC valoriza o SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO, confissão dos pecados. Conheço padres que passaram a apoiar a RCC após perceberem a seriedade dos carismáticos na preparação de sua confissão.

4. A PREGAÇÃO no âmbito da RCC insiste em temas que não aparecem muito nas homilias: o senhorio de Jesus, o pecado e a conversão.

5. Os grupos da RCC costumam formar EQUIPES DE ORAÇÃO E ACONSELHAMENTO, ocupando um espaço normalmente não atendido pelas paróquias. Os paroquianos costumam encontrar dificuldade para receber esse tipo de atenção.

6. Outro traço da RCC são as EQUIPES DE VISITAÇÃO aos enfermos nos hospitais, asilos e nas casas, e que fazem evangelização entre presidiários, como a Comunidade Aliança de Misericórdia. Nossos paroquianos em geral não têm tais preocupações.

7. Os grupos de oração da RCC com frequência dão origem a COMUNIDADES DE VIDA OU DE ALIANÇA que se dedicam às diaconias, também raras nas paróquias. É caso das casas de recuperação para pessoas com dependência, como na Missão Mundo Novo. Muitas dessas comunidades fundam livrarias católicas, assumem trabalhos de catequese e evangelização entre jovens, nas escolas, como o Ministério Universidades Renovadas e a Comunidade Pequena Via. Existem muitas paróquias sob a direção de Comunidades Novas, sendo o pároco um de seus membros, p. ex., a Paróquia Santa Margarida Maria, em Belo Horizonte.

8. Também o campo da COMUNICAÇÃO tem atraído a atenção de grupos da RCC, com programas em rádios comunitárias, como a Rádio Gospa Mira, em BH, sem esquecer as redes maiores como a Canção Nova, Pe. Jonas Abib, salesiano, e a Século XXI, Pe. Eduardo Dougherty, jesuíta. No Rio de Janeiro, a Comunidade Emanuel criou uma editora de livros de formação.
9. Outra contribuição da RCC diz respeito à RENOVAÇÃO DA MÚSICA. Viajando pelo Brasil, verifico que a maioria das paróquias já assimilou os cânticos nascidos no ambiente carismático, enquanto as propostas musicais que chegam nos folhetos de missa são deixadas de lado. Entre os compositores mais próximos de mim, lembro Paulo Simonetti, Paulão, e Nelsinho Correa, ambos hoje diáconos permanentes da Igreja, Celina Borges e Eros Biondini.

10. Se consideramos o NÍVEL DE PARTICIPAÇÃO, vê-se claramente o contraste entre um grupo da RCC e as celebrações nas paróquias, nestas a assembleia não canta, e a música fica por conta de um coro. Meu primeiro contato com um grupo da RCC foi em Piquete, SP, por volta de 1980, chamou minha atenção o fato de que todos cantavam, sabiam os cânticos de cor, mesmo sem nenhum papel nas mãos. A juventude sente atração pela RCC. Leonardo Boff confessou: “ELES conseguiram o que NÓS não conseguimos: reunir o povo…”

11. Exatamente quando se multiplicam as críticas sobre o “clericalismo”, a RCC, ao contrário, abre CAMPO DE AÇÃO PARA LEIGOS no espaço eclesial. Basta lembrar a irradiação missionária de um leigo como o professor José H. Prado Flores em toda a América, ou de Felipe Aquino no Brasil.

12. Vale lembrar o surgimento de MINISTÉRIOS DE CURA – como o do sacerdote canadense Pe. Emiliano Tardiff, MSC, em processo de beatificação, da freira irlandesa Ir. Briege McKenna, OSC, com ministério junto a sacerdotes, da leiga brasileira Tia Laura, Laura Mendes da Silva, de Lorena, SP, ou da Associação São Lucas, em BH, sob a liderança de Ir. Natália, freira Sacramentina de N. Senhora.

13. Muitas VOCAÇÕES SACERDOTAIS E RELIGIOSAS foram despertadas entre participantes da RCC. Apenas a Comunidade São João, França, contava em 2016 com 500 irmãos, dos quais 280 sacerdotes, além de 194 freiras e 50 noviças ou postulantes.

Foto RCC Solenidade no templo

Fotos: Chemin Neuf

14. Nos INSTITUTOS RELIGIOSOS a RCC encontra apoiadores e até fundadores: o jesuíta Pe. Laurent Fabre fundou o Caminho Novo, Chemin Neuf, a freira das Irmãs Marcelinas Maria Ângela M. Nicolleti fundou a Comunidade Nova Aliança. No Cenáculo de Laranjeiras, Rio de Janeiro, a freira norte-americana Ir. Lang, uma santa de nossos dias, teve à sua volta um grupo da Renovação que fez muito bem. O pregador do Papa, o capuchinho Raniero Cantalamessa, teólogo e cardeal, sempre mostrou simpatia pela RCC. Nos tempos do Vaticano II, o belga cardeal Suenens deu apoio à Renovação. Pessoalmente, ouvi de dois bispos brasileiros a mesma frase, mais ou menos assim: “Sem a Renovação Carismática eu teria de fechar minha diocese”.

Na verdade, o crescimento da RCC aproveitou-se de “vazios” de nossas paróquias. Só com dificuldade chamaremos a paróquia de “comunidade”, pois o individualismo reina. Apenas um exemplo, muitos idosos ou pessoas com deficiência não participam da missa dominical por falta de condução. Alguém já ouvir falar em “Pastoral da Carona” em alguma das paróquias? Eu, não.
Enquanto as paróquias não se “renovarem”, a RCC continuará tendo muito trabalho a fazer…
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EM TEMPO: Consegui escrever este texto sem usar adjetivos, exceto o “carismático”. Fatos são expostos com substantivos e verbos. São bem-vindos comentários sem adjetivos…

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