nada aprendemos com a morte
no Calvário
no Horto das Oliveiras
não há choro
nada é necessário
*
a morte dos pássaros e dos rios
das geleiras e florestas
a morte dos peixes
dos bichos de terra firme
nada nos ensina
nem mesmo a morte de nosso melhor amigo
de um parente mais próximo
dá-nos algo essencial
sobre a vida precária
a que em nós teima em resistir
por insistência do corpo provisório
castigo do espírito insaciável
*
à todas as mortes assistimos
impávidos e inertes
entre omissos e impotentes
mas avenidas e estradas
nos templos e cavernas
nas arenas e supermercados
nas fábricas e estádios
como se assiste a um ritual de magia
a uma luta de serpentes
a um programa imbecil de TV
*
a notícia da morte por e-mail
se mistura a imagens de catástrofes
e “spans” de mal gosto
a comentários políticos e inócuos
sobre o cotidiano de um herói sem caráter
de um país sem imaginação
*
a tudo se iguala a Tal
sem rosto
em consórcios de consumo
sem perceber nos consumimos
em espetáculos sucessivos e recorrentes
sob rótulos e slogans
os mais diversos e eloqüentes
*
nada aprendemos com a morte
alheia
por mais estúpida e feia
estampada nos jornais
na Internet
com as mortificações globais
menos ainda aprendemos com o discurso dos sobreviventes
no percurso de nossa própria morte
*
nada aprendemos com a morte
Comentários
são versos para a reflexão! lembraram-me estes:
imposição
líria porto
morria de medo da morte
resolveu matar a morte
sangrou a morte de morte
um punhal fino e cruento
e a morte não morreu
(jogou o punhal na cova)
condenou a morte à forca
eis o que aconteceu
a corda que ele usava
com toda força que tinha
enrolou-se-lhe ao pescoço
(ficou no maior sufoco)
ofereceu-lhe veneno
um copo cheio de morte
a morte bebeu a morte
e a morte não morreu
brincava a morte com o gelo
(existe a lei do mais forte)
*
(gostei muito do site – obrigada – coloquei-o entre os favoritos)