onde vejo primeiro os ipês-rosa florindo
depois vem a explosão de amarelos
a contrastar com o mato ressequido em volta.
onde vejo até o horizonte a sequência de dunas
que o vento pacientemente remodela
sob a luz inclemente do sol a reverberar na areia.
tonalidades mais claras no decorrer do dia
em gradações que vão do branco ao marrom
ao crepúsculo os montes de um lado escuros
revelam-se dourados na face inclinada para oeste.
asteroides tracejam a abóbada
estrelas vicejam em ouro incandescente
buracos negros se adivinha a bilhões de anos luz
engolindo a poeira cósmica das galáxias
entre o torvelinho explosivo dos blazares.
arbustos de troncos distorcidos espalham-se no chão pedregoso
enquanto atrás – sobre os montes de areia
o luar descobre um cenário marchetado de sombras e luz
no dorso do oceano de ondas congeladas.
o retrato amarelecido de meu pai
lança-me um olhar compassivo
em que parece querer me convencer
do quanto traiçoeiro é o tempo
e do quanto há de paradoxal em suas hélices
que sempre nos leva ao abismo do Nada.