Lúcifer, a Reforma Protestante e a Teologia da Prosperidade – parte I
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O mundo moderno em sua trajetória de lutas e conquistas tem possibilitado ao ser humano alimentar-se de um pensamento cada vez mais competitivo de busca de sucesso, exibição de riqueza e poder, que pode ser observado em todas as práticas predominantes na sociedade global. Os indivíduos se enxergam pelos olhos dos outros, destinam grande parte de sua renda para impressionar, seja a família, os vizinhos, os colegas de trabalho, parceiros, concorrentes. Ao invés de investirem no mundo das utilidades e satisfações reais optam pelo glamour ilusório fabricado pela mídia, acreditando estar elevando seu status social.
Tais práticas competitivas, cada vez mais acentuadas em campanhas eleitorais, olimpíadas, concursos, sistemas de avaliação escolar, guerras comerciais, esportivas, disputas midiáticas, seduções sexuais hétero ou homoafetivas, assim como em tantas outras áreas, repercutem mesmo no universo das religiões, que são atualmente inspiradas, guiadas, governadas e conduzidas por um imensurável espírito competitivo.
A narrativa bíblica conta que antes da existência do ser humano, no Céu existia um anjo chamado Lúcifer que Deus colocou na destacada posição de Primeiro Querubim da Guarda. Lúcifer era aparentemente perfeito, sábio, formoso, de vívido resplendor, gozava de autoridade, privilégios e regalias concedidos pelo Criador.
Na mitologia bíblica, Lúcifer, tomado pelo narcisismo e pela vaidade, decidiu desafiar o Criador, dando origem ao instinto competitivo que hoje domina o mundo, segundo dissertação do autor José Albos Rodrigues em seu artigo “A origem e o desenvolvimento do pensamento competitivo”, publicado pela Universidade Federal de Campina Grande na Paraíba.
Quem é Lúcifer?
“E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” Isaías,14:13-14.
Segundo a Igreja Católica, Lúcifer era o mais forte e o mais belo de todos os querubins. Então, Deus lhe deu uma posição de destaque entre todos os seus auxiliares, mas tanto poder o tornou vaidoso, não aceitava servir a uma criação de Deus, “O Homem”, e revoltou-se contra o Altíssimo, que, decepcionado com sua criação “mais perfeita”, ficou prostrado. Em torno de um terço dos anjos teria acompanhado a Sedição. Coube ao Arcanjo Miguel então tomar a atitude de liderar as hostes celestes, logo seguido por Gabriel, e comandando a maioria dos anjos, que permaneceram leais a Deus, derrotaram e expulsaram do Céu Lúcifer e seus seguidores. Desde então, o mundo vive esta guerra eterna entre Deus e o Diabo. De seu lado Lúcifer e suas legiões tentam corromper a mais magnífica das criaturas mortais feitas por Deus, o Homem. Do outro lado Deus, os anjos, arcanjos, querubins e santos travam batalhas diárias contra as Forças do Mal personificadas em Lúcifer. Que maior vitória obteria o Anticristo frente a Deus do que corromper e condenar as almas dos humanos aos infernos, sua morada verdadeira?
Os estudos de demonologia cristã da Idade Média, atribuía a este “anjo caído”, a capacidade de mudar de formas. Acreditava-se que ele poderia assumir a forma que desejasse, podendo passar-se por qualquer pessoa. Seu aspecto físico criado pela Igreja em seus primeiros séculos e posteriormente herdado pelas várias religiões cristãs foi copiado de várias entidades das mitologias e religiões de diferentes povos antigos, não exatamente ligadas à maldade. Seu reino, os Infernos, sofreu influência do Tártaro da mitologia grega, morada de Hades, local para onde iam as almas dos mortos, cuja porta de entrada era guardada por Cérbero, o Cão de três cabeças. Seus chifres eram de Pan, uma entidade grega protetora da natureza, sua fama de representar uma força eternamente em conflito com Deus veio do Zoroastrismo. Ainda encontramos coincidências com as crenças dos antigos egípcios, que acreditavam que o deus Anubis, o Chacal, carregaria a alma dos mortos cujo coração ao ser pesado numa balança fosse mais pesado que uma pluma.
Foi durante a “Baixa Idade Media” entretanto que o “Anjo Decaído” ganhou a hedionda aparência com a qual o conhecemos hoje, asas de morcego, pés de bode, olhos de fogo, chifres enormes na cabeça, olhar aterrorizante, etc. A Idade das Trevas foi um momento fértil para a propagação nas crenças sobre as ações de forças demoníacas agindo sobre o mundo. Os milhões de mortos nas epidemias de peste negra vieram, juntamente com a ocorrência de guerras sangrentas, difundir a crença que “o Anticristo estaria atuando no mundo”. Foi aí que Lúcifer, dentro da crença cristã, passou a representar a personificação do mal da forma mais intensa e poderosa que conhecemos hoje. Surge a crença de que para cada ser humano vivo na Terra, Lúcifer criou um Demônio particular, encarregado de corromper aquele indivíduo. Já Deus, não poderia deixar por menos, e criou para cada ser humano um “Anjo da Guarda” ao qual incumbia da missão de proteger e zelar pela alma daquela pessoa.
(continua na parte II)
Lúcifer, a Reforma Protestante e a Teologia da Prosperidade – parte II
Comentários
Interessante um demonio particular…um anjo..o processo dos antagonismos e dualidade na escolha do live arbitio, se eh que existe!
Curiosa com a parte II…
O que mais há no mundo são Lucifer(s).
É preciso muito cuidado para que não sejamos contaminados por esses Lucifer(s) que estão entre nós.
Aguardando a sequência.