Pitangui, a Revolta da Cachaça – parte I

Publicado por Padre Joao Delco Mesquita Penna 12 de abril de 2022

Pitangui, a Revolta da Cachaça – parte I
No início do século XVIII, por volta de 1720, a cidade de Pitangui localizada no Centro-Oeste do Estado de  Minas Gerais, conhecida na época como Sétima Vila do Ouro, foi palco de uma grande batalha que entrou para os livros históricos como um dos conflitos mais relevantes na história dos movimentos nativistas no Brasil Colonial. A cachaça, bebida genuinamente brasileira, foi o estopim do confronto entre tropas da coroa Portuguesa e um grupo de homens livres e escravos sob o comando do bandeirante Domingos do Prado. Por tal motivo o movimento ficou conhecido como Revolta da Cachaça.

Cerca de um ano depois da derrota dos paulistas para os emboabas, em junho de 1710 a coroa portuguesa fundiu as capitanias de São Vicente e Itanhaém criando a Real Capitania de São Paulo e Minas do Ouro para restabelecer sua autoridade na região das Minas, e os bandeirantes paulistas, que até então eram chamados Vicentinos, foram retornando à região. Em 1711 foi concedida a sesmaria de José Rodrigues Betim às margens do Rio Paraopeba, onde está hoje o município que leva seu nome, e a partir daí os paulistas se expandiram para onde hoje se localiza o Centro Oeste mineiro, fazendo surgir novas vilas nos Campos Gerais, concentrando-se na atividade de mineração e cultivo da cana de açúcar. A chamada Sétima Vila do Ouro, hoje Pitangui, veio a se consagrar como a segunda maior produtora de ouro da Colônia.

A presença de famílias tradicionais pitanguienses desde o século XVIII, 1700 em diante, com nomes como Antônio Rodrigues Velho, o Velho da Taipa e posteriormente, do seu neto Inácio de Oliveira Campos e sua esposa Dona Joaquina do Pompéu, a Dama do Sertão, constituiu um tronco familiar que deu nomes relevantes para a política, as artes e a cultura do país.

O Velho da Taipa foi um dos primeiros bandeirantes a chegar à região de Pitangui, um dos descobridores e exploradores do ouro no arraial, na primeira década do século XVIII, 1700-1710. De acordo com os registros históricos o bandeirante construiu uma casa com paredes de taipa, daí a alcunha, no alto do Morro do Batatal, onde havia pepitas de ouro do tamanho de batatas, atualmente Bairro da Penha. O Velho da Taipa tornou-se capitão-mor de Pitangui e juiz ordinário da primeira Câmara da Vila e teve seu nome estampado na estação ferroviária no lugarejo que leva seu nome, hoje Estação Cultural Velho da Taipa.

Quando a Região das Minas começou ser povoada, na última década do século XVII, fim dos anos 1600, logo os bandeirantes e tropeiros trouxeram os alambiques. Naquele momento, a produção de cachaça em toda a província do Rio de Janeiro, assim como em São Paulo, vivia seu auge e centenas de engenhos se espalhavam pela Colônia.

A aguardente havia se tornado popular e era consumida cada vez mais por escravos, fazendo com que os vinhos de Portugal sofressem um baque nas importações monopolizadas pela Companhia de Comércio. No ano de 1647, Portugal criou uma nova lei onde estabeleceu a proteção do monopólio da aguardente e do vinho, obrigando os produtores brasileiros a comercializarem exclusivamente com a metrópole. Nos entrepostos africanos a cachaça era mais bem aceita que o vinho como mercadoria para troca por escravos.

No século XVII entre os anos de 1660 e 1661 sacudiu o Rio de Janeiro a Revolta do Barbalho ou da Bernarda, que como outras foi também chamada Revolta da Cachaça. O principal motivo foi o aumento de impostos cobrados em cima da aguardente pela metrópole portuguesa. Essa revolta foi replicada por movimentos rebeldes em várias outras regiões da Colônia, sendo a de Pitangui a mais violenta de todas.

No início do século XVIII, 1700 e poucos, Minas já havia sido tomada pelos engenhos de açúcar e aguardente que produziam bebidas muito mais baratas do que as que vinham do Reino e ajudavam a enfrentar o duro trabalho das lavras do ouro. No entanto à Coroa não interessava que uma bebida produzida no Brasil e que raramente recolhia impostos, prosperasse e alavancasse sucesso de vendas. Em 1715, o Capitão-mor da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, Brás Balthazar da Silveira proibiu a construção de novos engenhos por toda região das Minas. Em Pitangui, naquela época, viviam alguns dos bandeirantes mais ricos das Minas e da Colônia, que tinham estabelecido sua própria atividade agropecuária incluindo uma próspera indústria da cana-de-açúcar. Estavam acostumados ao combate e não iriam agora deixar tudo para Dom João V, “o Magnânimo”, que àquela altura, enchia os cofres com o ouro brasileiro.

(Continua na parte II)

Comentários
  • Antonio Angelo 933 dias atrás

    Do ouro à cachaça, fomo-nos acostumamos ao triste destino de colônia.
    Isto fica bem claro neste resgate histórico de nosso Interior Mineiro.
    Apesar de todas revoltas.

  • Maria Amélia Corrêa Campos 953 dias atrás

    Brasil sempre explorado.

  • Vandeir 955 dias atrás

    Espero que a segunda parte não relacione a Revolta da Cachaça de Pitangui a restrições legais por parte da coroa portuguesa.

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