Dizem que todo fundo de poço tem mola. No campo individual somos movidos por desafios constantemente. Rudolf Steiner, pai da antroposofia dizia que no processo de educação, precisamos constantemente propor desafios para as crianças. Na vida adulta, muitas vezes os desafios são enormes e às vezes mais do que desafios, as consequências de nossas escolhas aliadas a contextos condicionantes, as chamadas quedas, perdas, dores. Diante do tal “fundo do poço” sucumbimos, ou arrastamos essas situações, ou encontramos a tal mola que nos faz saltar para algum tipo de claridade. Se ao invés de poço fosse a metáfora da caverna de Platão, encontraríamos uma saída para o mundo.
Tratando dos processos coletivos e civilizatórios, tem momentos que não dá para saber se acreditamos na teoria darwinista de uma evolução quase linear no tempo, ou na Roda de Sansara budista, em que os processos são individuais e que a humanidade estará em um ciclo de repetições entre prazer e sofrimento. Poderia ser alguma espécie de espiral, ora repetindo e regredindo, ora evoluindo. São infinitas as possibilidades metafóricas.
O fato é que tem muita gente por aí questionando a sociedade global do século XXI, que está fechando os olhos para muitos alertas científicos, se auto exterminando e de fato agonizando, caminhando velozmente na lógica da competição, do salve-se quem puder, cultivando relações de poder, antes que relações verdadeiramente humanas e cooperativas.
A médica Margareth Dacolmo em seu livro recém escrito “Um tempo para não esquecer: A Visão da Ciência no Enfrentamento da Pandemia do Coronavírus e o Futuro da Saúde” faz referência a dois movimentos culturais importantes na história que aconteceram depois de duas grandes pandemias. O Renascimento, depois da Peste Negra e o Modernismo depois da Gripe Espanhola, há exatamente 100 anos. Ela diz que estamos prestes a viver uma revolução cultural em decorrência da profunda desigualdade e crise de valores éticos, que ficou ainda mais evidente com a pandemia. É claro que estas referências são eurocêntricas, assim como a ciência hoje o é. Mas o fato é que os avanços tecnológicos não foram acompanhados de valores que nos façam parecer mais humanos e evoluídos.
Será que a demanda crescente do setor cultural, ao lado de ações sociais e ambientais, irá impulsionar e encorajar artistas, cientistas, a sociedade criativa, a revelar novas utopias de um mundo possível, fraterno, sustentável e justo sobrepondo-o à lógica neoliberal e aos paradigmas ultrapassados da Guerra Fria?
Comentários
PARABENS NADIA, PELO TEXTO. MUITO BOM.
ABCS