Professor, eu agradeço
dos remédios o acerto
as meizinhas é bem certo
me darão algum sossego
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Ah! no ror de comprimidos
não esquece as vitaminas
que este corpo franzino
cada vez mais se amofina
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Calmantes, muito bem vindos
que a noite é um sacrifício
anda o sono desgarrado
me deixando aperreado
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Inclui aquela poção
especial pro coração
que o infeliz pula no peito
de jeito que não tem jeito
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Histórias pra relatar?
Isto é o que não me falta
mas longe de mim o abuso
do seu tempo fazer uso
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Histórias da juventude
de estradas e folias
quando com força e atitude
do pouco muito fazia
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Tem historias de paixão
onde se perde o juízo
morenas que num sorriso
nos trazem na sua mão
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Elas, Marias e Terezas
de longos, negros cabelos
cadeiras de desassossego
de entregas sem avareza
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Nesta cidade aqui mesmo
estive perdido a esmo
em labor sem redenção
pra família dar o pão
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O cachorro que eu tive
o cavalo marchador
a viola em canto livre
nas rédeas soltas do amor
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Ao final, coisas pequenas
que pequena é mesmo a vida
mas se o senhor não duvida
é mesmo o que vale a pena
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Rege o futuro, doutor
se logo eu não me for
de muito mais revelar
quem sabe n’outro lugar
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Mas fico agora calado
e paro de importunar
pois mesmo aqui do lado
está o vizinho sem ar
Comentários
Como sempre, vislumbra-se aqui a cortina (finíssima) de ironia, que o poeta AA sabe tão bem antepor aos vitrais do cotidiano. Um cotidiano que lhe é muito comum, por sinal, tanto no afazer profissional como na lavra palavra. Aleluia!