Peça a alguém que defina a Igreja com uma única palavra. Será que alguém dirá “escola”? Claro que a Igreja é mais do que isso – corpo de Cristo / povo de Deus / noiva do Cordeiro e muito mais. Mas vale lembrar que a Igreja vem sendo, ao longo dos séculos, uma escola… diria… magistral!
Escrevo no domingo, após a missa. Mesmo usando linguagem simples, ao alcance do povo, e explorando imagens e situações do mundo rural, que ele conhece muito bem, o pároco usou três palavras que não são comuns nas conversas do dia a dia: subjacente, patente e transcendência. Sem querer, o pregador estava ampliando o vocabulário dos ouvintes.
Aconteceu na Inglaterra: o idioma inglês primitivo, não sendo uma língua românica, dispunha de um vocabulário bastante tosco, até que em 1549 a Igreja adotou o Common Prayer Book, o livro das orações comunitárias, revisado três anos depois por Thomas Cranmer, arcebispo de Cantuária. Nas celebrações, o povo começou a ouvir palavras novas, mais refinadas e mais abstratas, que logo sairiam do templo para as ruas.
Em consequência, aquela língua bárbara de pescadores e carvoeiros acabaria como o útil instrumento que permitiu as obras magistrais de William Shakespeare e Charles Dickens. E mais: graças a esse livrinho, o inglês moderno tem nada menos que 40% de seu vocabulário proveniente do latim.
Outra marca da Igreja mestra: no século IX, os irmãos Cirilo e Metódio foram evangelizar os eslavos do leste europeu e se viram diante de uma sociedade ágrafa: não sabiam escrever. O alfabeto “cirílico” foi a invenção de São Cirilo para grafar os fonemas usados pelo povo e traduzir o texto do Evangelho para as línguas e dialetos eslavos, como o bielorrusso, o búlgaro, o macedônio, o russo, o sérvio e o ucraniano, além do ruteno, e outras línguas extintas.
Em contato com a Igreja, a sociedade sempre sobe de qualidade. É um triste engano produzir “evangelhos pastorais”, trocando o “vós” por “você” e traduzindo “publicano” por “cobrador de impostos”, ainda mais que são realidades bem diferentes! Não se trata de descer ao nível do povo rude, mas de fazê-lo subir a um novo patamar de cultura.
Vou deixar de lado o fato histórico de que as universidades nasceram por iniciativa da Igreja Católica. E que importantes descobertas são devidas ao estudo e à pesquisa de homens da Igreja, como a genética do frade agostiniano Gregor Mendel e o heliocentrismo do cônego Nicolau Copérnico.
Antes de falar mal, é bom lembrar: a Igreja é Mãe e… Mestra… ou Mater et Magistra, a carta encíclica do Papa João XXIII “sobre a recente evolução da Questão Social à luz da Doutrina Cristã”. Foi publicada em 15 de maio de 1961, no septuagésimo aniversário da encíclica Rerum Novarum e no terceiro ano do pontificado de João XXIII.