O cantor proclama que vestiu uma camisa listrada e saiu por aí;
o autor escreve e avisa noutra voz que voltou – que está de volta para o aconchego.
Também eu estou de volta; o aconchego sou eu que me dou, que me permito pegar, parar.
Mania as pessoas tem de repetir “a vida continua”… continua sim.
Eu não continuo mais como a vida quer, com o que ela traz de surpresas
e sustos.
Arrumei um canto pra mim, canto sim – recanto. Se o re for bis, repetição, então tenho canto duas vezes: um para morar, outro dentro
de mim – no meu coração.
Menina, filha, mulher, irmã, mãe, papéis desenrolados, vivenciados no
rolo da existência, da vida.
Sim, a vida continua… sou eu que não quero, agora, a continuidade mesma, EU. Sim, eu mesma.
Voltei pro meu aconchego. Quero ficar comigo um pouco. Sem migo não fico mais, não vivo.
Aconchegar me fala muito de perto o som de concha. Perto ou longe, hoje sei porque li, que só produz pérola a concha que é ferida.
Grãozinho de areia que ela não consegue expulsar, com seu movimento.
Assim é que tenho colares de pérolas, três. Um que ganhei de madrinha, com quatro voltas – biju. Outro que comprei como sendo pérolas cultivadas, e o maior, o grande colar que o fio da vida emendou: contas
de tons e tamanhos os mais variados.
Algumas claras, bonitas, outras doloridas, apesar de coloridas.
Tom, tons, tonalidades. Em cada idade precisei de mim forte, muito forte.
Pela sorte, pelo amparo Maior, empreendi lutas, dores e sufocos as minhas custas, o que significa custear.
Tear.
Fiar.
Tecido pronto, com algumas marcas indeléveis, escolho-me.
Permito-me um abraço apertado, demorado, sem namorado.
Sou enamorada do Amor, da flor e artística/mente, artesã da DOR.