Apesar de barulhentos e nada eloquentes, habita nos bárbaros do nosso litoral momentos de silêncio, um silêncio tamanho ao ponto de tornar o adjetivo profundo ou mesmo tremendo um maneirismo empolado. É silêncio e ponto.
Nesses segundos, às vezes minutos e, pasmem, em alguns raros casos horas, os olhos ganham contornos bovinos. São olhos de adoração, mas sem compreensão, lugar comum entre fanáticos e enamorados.
O mar não olha de volta, nem compartilha do silêncio. Segue marulhoso e irresoluto, um Deus pagão desinteressado pelas coisas dos homens.
Esses que habitam o litoral nunca serão cristãos, pelo menos não católicos. Apesar da profusão de igrejas e do gosto sincero pelo incenso, falta no correr dos dias aquela agonia que me abate, homem vulgar das montanhas. A agonia de quem habita o barroco, a agonia das mãos retorcidas dos profetas de pedra sabão. O terror da cruz entre montanhas.