Não restará nenhum abraço
A dar e a vender.
Já nos teremos esquecido.
Novos hábitos virão, futuros e
Presentes, adquiridos, pétreos.
Eu olharei pela janela e aí está
O mundo que desaprendi,
Outro, diferente, triste, pétreo,
Uma distância entre nós inteira
Vai se interpor, como um muro
De concreto armado, firme e
Alto, tijolo e cimento, ou arame
Farpado, e seremos esquecidos.
Nos tocaremos de longe a olhar
Um para o outro, afastados,
Alguns metros a circunscrever
Uma agonia e um alheamento.
Escreveremos cartas, e-mails
E faremos chamadas de vídeo e
Voz, inutilmente, a cada dia.
A praça descansará sozinha.
A cidade se aquietará mais cedo.
O medo nos encontrará aflitos,
Dormentes, sem alegria alguma,
Dispersos como o vento na rua,
Em frente ao loquaz televisor.
Séries, filmes, memes, fakenews,
Disparos, notícias, longe do mar,
Haverão de enfim nos capturar.
Depois tombaremos, e depois
Nos levantaremos outra vez
Quando esta pandemia acabar.