Dentro do atroz confinamento,
Que perdi minha sombra.
Percebo agora
Mas já deve fazer algum tempo.
Uma sombra, afinal, não some
Sem mais nem menos
Do dia pra noite.
Ela nos deixa devagar, aos poucos.
Lembro-me da minha sombra
Acompanhando cada passo
Nos paralelepípedos da rua,
Nas calçadas, ao ritmo do baile,
Conforme a dança.
Andava eu debaixo da luz dos postes
Naqueles dias primevos.
Eu e minha sombra, esguia e paciente.
Aquela nuvem escura e prolongada
Roubava minha silhueta
E deve tê-la levado alhures,
Como diria o poeta de bomdespacho.
Roubava ou roubou? Roubava.
Agora, preso a esta casa distante,
Aprendo a andar sem sombra
A andar sozinho.
E dou meus primeiros passos.
Quando puder sair da escuridão
E enfrentar as esquinas novamente
Eu a encontrarei à espreita
Pronta para me abraçar.
E assim, juntos novamente,
Seguiremos nosso caminho.
Comentários
Num tempo de sombras, Wes, agarremos a que nos pertence. Única que conseguimos desenhar e estender sobre os paralelepípedos, como bem descreveu.
Você conseguiu reconquistar a sua, por graça. Mantenha-a.
Quando nos foge, o esperado é que não a recapturemos.
Como uma sombra que vislumbra outra sombra, de bomdespacho algum pretenso poeta tenta, sem maior propósito, falar a um poeta rubinense que desenvolveu a arte de andar despojado da própria sombra, sendo por ela reencontrado em um virar de esquina.
É um exercício poético e surreal, só possível para quem não se esqueceu das ruas de sua meninice!