Em reluzente Mercedes blindada
Cruzando a cidade quase deserta
Amedrontada pela epidemia
Mendigos sob marquises
Em promíscuo abandono, faces emaciadas
Cachorros e crianças de permeio
Praticando malabares
Ela desvia o olhar, não quer se aborrecer
– É o que me faltava!
Observa o motorista pelo retrovisor
A máscara sobre o rosto
Como bem lhe exigira
Teatro e restaurantes de portas cerradas
Uma não esperada urbe
Que entrevê através dos vidros
Madame recorda verões passados
E sonha com um mundo asséptico
Onde vírus e miseráveis não se replicam
Comentários
Já dizia o sambista: madame não gosta de samba.
É o que parece, similarmente, dizer o poeta de bomdespacho.
Pra quê discutir com madame?