Entrará este poema.
Quem sabe estragará os móveis
Ensopará o fogão, a geladeira
Estragará cama, sofá, tapetes.
Debaixo da nuvem escura
Desaguará este poema.
Trincará talvez o muro da casa
Apagará uns nomes nas calçadas
Carregará a fotografia da irmã.
Sobre o asfalto insepulto
Escoará enfim este poema.
Até que um rio um mar o acolha
Até que se transforme em vapor
E um dia então chova em letras.
II. Quando muda, em sua pele?
III. Sente o vento enquanto muda
IV. Lenta, inexoravelmente?
V. Você, como eu, deve sentir o vento
VI. Como o vento nos sente.
VII. É o tempo a trazer o novo no ventre.
Comentários
O tempo e o vento, como diria Veríssimo, mistura-se às palavras, e num refazer de imagens, figuras, vai descrevendo o que emerge dos agrestes da alma.
E apaga – ou desvenda? – nomes na calçada.