Foto: Marina Jardim, óleo sobre tela, Pedras de Rubim
Que não é grande nem pequeno
Cabe toda a pequena cidade.
Junto com ela vem a Cangalha
Que é como chamam aquela serra
Cinzenta e partida ao meio.
Ainda sobra algum espaço
Para o bar de Eliezer, que fechou.
Cabe também o bigode de Eliezer.
Tem lugar para Seu Nonô erguer
O posto de gasolina e a oficina.
No meu coração, que de perto é
Parecido com a serra da Cangalha,
Há uma beirada para o sorriso
Meigo e franco do meu pai,
Amuleto para espantar a tristeza
E gente ruim que passa por mim.
Tem um quintal para Vó Helena
Fazer crochê e palavras cruzadas.
Memórias circulam em minhas veias
A me proteger de todo o mal, amém.
Não sendo nem grande nem pequena
A arca do meu coração tem de tudo
Como as paredes do armazém de Miúdo.
Quando a saudade lhe aperta,
Dia sim, dia também, ano vai,
Ano vem – é o passado chamando
Para de novo ir à antiga praça
Para ver e abraçar meus amigos.
Eu pego e vou. E prossigo.
Aprendi que ninguém manda em mim
Exceto esse caudaloso coração.
Em torno dele é que vivo.
Comentários
Rubim sempre decisiva, importante, ante a impotência do poeta de – agora – revivê-la.
Mas há que revê-la em seus múltiplos diapositivos, não é, meu caro Wes?