em sua pureza original
nua, sem se notar nua
a pele reverberando a luz
na iridescência de um cristal
os músculos se estendendo
em harmonioso moto contínuo
dando forma a uma escultura
que um dia Rodin revelará
onde outras criaturas já existiam
Na estrato vegetal, flores, gramíneas, matas
acima o arco-íris tracejando o céu
e um amplo universo em derredor viceja
em inédita composição a estender-se
sem os limites dos horizontes
de seu quadril sem concupiscência
de seus olhos que se abrem
para as águas que em toda parte cintilam
emana a força do Criador
que a fez para ser presença permanente
companheira do homem recém forjado
em que cedendo a irrefreável tentação
como dois rios que se encontram
um plácido, franciscano
outro turbilhonado, amazônico
em que o bem e o mal se conformam
a se debater num caudal amorfo
cenário de corredeiras incoercíveis
que o próprio Deus engendrar não urdira
de onde pende um fruto vermelho
que há de tudo conspurcar
empurrando-os a um mundo temerário
que sob ciclones rodopiará milênios afora
incapaz também de ceder a compaixões
e que não descuidará – todos esforços há de envidar
para que nunca, nunca mais seja permitido
que a paz retorne ao reino dos viventes
Comentários
Ainda um travo da maçã nos atravessa o passo. É o redemunho, que o poeta tentará a vida toda em vão domar, cada qual em sua faina, antinomia, na peleja das palavras, tão bem manejadas pelo santo antonio dos belos horizontes, quiçá bom despacho.