Publicado por Antonio Ângelo 26 de abril de 2018

A moça do lotação

Todo dia espera
que ela esteja no ponto
e suba os degraus do coletivo

Àquela hora a luz da alvorada nascente
junto às fracas luzes dos postes
mal consegue espantar a escuridão

Vê a moça que se aproxima
no rosto ainda marcas do sono
precocemente interrompido

Com o ônibus rodando
ela procura se equilibrar com dificuldade
na passarela instável

Aproxima-se da catraca
abre a bolsa
entrega-lhe as moedas

Neste momento suas mãos
levemente se roçam
num quase imperceptível toque

Ela passa atrás
não sem antes o premiar
com um olhar, um breve sorriso

Depois assenta-se no banco
onde reclina a cabeça
tentando um derradeiro cochilo

Chegando ao centro, desce
manda-lhe um tchau da calçada
seguindo rumo ao trabalho

Por um quarteirão acompanha-a
já a manhã tornando explícita
a crua realidade da cidade

Segue seu destino o ônibus
o cobrador agora sabendo:
entre os muitos passageiros

Que hão de por ele passar
nenhum será tão aguardado
quanto a sonolenta garota do subúrbio

Comentários
  • Wesley 2391 dias atrás

    Um retrato repleto de sutilezas, quase imperceptíveis, de um tempo mais delicado, de uma realidade menos cruenta, que a cidade escondeu mas que a poesia teima em revelar, pela mão do seu maestro, antonio angelo, que carrega o pavilhão da nossa humilde confraria.

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