Cenas de um casamento

Publicado por Antonio Ângelo 10 de janeiro de 2018

como num filme de bergman
vejo-a em branco e preto
contra a paisagem que se dilui em cinza

braços cruzados, está ora de lado
(seu perfil delicado desenha-se
contra o écran da manhã invernosa)

ora de frente, olhos de liv ullman
que me interrogam com desaponto
cobrando-me entregas não consumadas

como num filme de bergman
caminhamos na praia pedregosa
evitando discutir promessas descumpridas

seguro sua mão por instantes
quando quase perde o equilíbrio
devido aos desníveis do solo

uma brisa fria e úmida incomoda
abraçamo-nos
trazemos nossos corpos um ao outro

a água do mar arrasta-se até nossos pés
após ondas se acabarem em estrondo
num rendilhado de espumas

o clima nórdico dessa Farö
enreda dia a dia nossas almas
num labirinto de sabidas rotinas

desconhecemos como tocar nossas vidas
seguimos ao léu, sem entrever um futuro
que videntes e horóscopos nos sonegaram

Comentários
  • wesley 2504 dias atrás

    Poemas assim nos tocam a alma, em fotografias que se esmaecem no tempo, do que fomos e do que podíamos ser, felizes e eternos como a memória compartilhada, mas sempre um pouco menos do que estava anunciado no sonho.

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