Nosso cancioneiro tem mais tutano que os barquinhos desafinados dos anos 60 ou os lençóis dos falsos sertanejos de hoje. Em 1955, ouvi um colega de internato que cantava uma moda de viola com esta letra narrativa:
Jogou as muletas fora no meio da multidão.
Pegou seu colar de ouro e, chorando de emoção,
Quis entregar para o padre pra mostrar sua gratidão.
Os milagres que Deus faz, só o bem pode pagar.
Mas se é este o seu desejo, pegue então o seu colar,
Dê à primeira pessoa que no caminho encontrar’.
A velha lembrou do Padre, do seu carro ela desceu.
Foi pra dar o seu colar, na hora se arrependeu,
Por ser uma pobre preta, cinco mil reis ela deu.
A esta altura, imagino que o leitor está à espera de um desfecho, talvez incluindo pesado castigo sobre a miraculada mal-agradecida. Lamento informar que, por um desses mistérios do inconsciente, minha memória trava neste ponto. Não lembro se havia mais estrofes ou se tudo acabava em aberto, dando espaço à nossa imaginação.
Só queria deixar claro que a música tem uma importante função no despertar das consciências. O burguês talvez discorde… nem acredite em milagres…
Em tempo: fui pesquisar na Internet e encontrei a letra, intitulada “O Milagre de Tambaú”, em gravação de Palmeira e Biá. E havia mais uma estrofe:
Voltando de novo ao Padre, por ele foi repreendida:
Teus cinco mil reis tá aqui, guarde pro resto da vida,
Que a pretinha que ocê viu, era a Senhora Aparecida…